Da verdadeira luta de classes em Portugal
Sim, é verdade. Existe luta de classes em Portugal e estas estão perfeitamente identificadas e diferenciadas. Só que o conflito já não opõe os capitalistas aos proletários, até porque estes últimos se encontram dos dois lados da barricada e já não têm, como outrora, interesses bem definidos. A luta é entre o Estado e os muitos, muitíssimos, que dele dependem e os contribuintes.
De um lado temos os que vivem à sombra do Estado. Arrumaram-se à mesa do orçamento e exercem o poder sob diversas formas. Temos hoje no nosso país quase um milhão de funcionários públicos e similares (no vasto sector empresarial do Estado) o que representa entre três a quatro milhões de dependentes directa ou indirectamente do Estado. Os funcionários públicos e similares em Espanha, p. ex, são não muito mais do que 2 milhões, mas para uma população que é quase cinco vezes a nossa. Agora comparem.
Os funcionários públicos portugueses constituem uma classe com interesses próprios e diferenciados. Os partidos dominantes têm todo o interesse em a alimentar e proteger; quanto mais funcionários públicos mais votos garantidos há. Para eles é fácil, é barato e dá milhões. O Estado serve-lhes de título de legitimidade para viverem à custa da outra classe, ou seja, os pagantes de impostos, taxas e multas. Mais que nunca é actual a figura do Zé Povinho enganado e esmagado por tributos do nosso imortal Rafael Bordalo Pinheiro. Mas aquele não é o cromo que figura nas manifestações da CGTP. É o pagante ou seja, somos todos nós.
O poder exercido pelos que directamente beneficiam dos impostos é imenso e tem diversas formas. Reflecte-se no autoritarismo político do Governo, designadamente se alicerçado numa maioria absoluta; na inépcia dos seus membros na maioria incompetentes e munidos de curricula aldrabados (uma até dizia que tinha o doutoramento quase pronto porque, imagine-se, já tinha entregado a bibliografia da putativa tese! E eu que pensava, porque nas várias teses que fiz assim foi, que a bibliografia só era porque só........
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