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Da ecologia ao ambiente

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27.09.2025

1 Era eu jovem estudante ainda liceal sediado em Coimbra quando ouvi pela primeira vez falar em ecologia. O termo, na sua acepção actual, foi inventado por Fourier, a quem Marx logo chamou desdenhosamente socialista «utópico», porque desconfiava das realizações do progresso técnico, estádio indispensável para a chegada ao socialismo. A ecologia radical já vinha associada ao socialismo utópico francês e já Marx gozava com ela.

Logo a ecologia me despertou o maior interesse. Educado como fui no culto da natureza e do exercício físico ao ar livre (sem sucesso pelo que a este último toca, devo dizer, porque era com muita dificuldade que me levavam para passeatas de bicicleta, piqueniques nos saudosos pinhais do Monte Estoril, cheios de formigas e abelhas, e a banhos para as frias águas da praia da Azarujinha, ainda por cima cheias de algas), logo inquiri. Percebi desde muito cedo uma coisa que me pareceu essencial. Entre os ecologistas havia duas correntes muito diferentes.

Uma delas preocupava-se mais com a natureza e os animais do que com a pobreza, o desemprego e os excluídos, como se tudo deles dependesse. A natureza fazia de nova divindade prevalecendo sobre tudo e os homens eram os novos pecadores. Natureza e humanidade eram inimigas como se as duas pudessem ser vistas em separado. Esta posição, com que deparamos hoje, e mais forte do que nunca, é, salvo o devido respeito, uma demonstração de pura e simples ignorância e falta de senso, para não lhe chamar outra coisa. Fazer da natureza o critério universal da valia equivale a fazer das impiedosas leis que a regem o destino do homem como se ele fosse um simples joguete a ela submetido e sem voz no seu destino. Terão os ecologistas radicais e activistas consciência disto? Terão consciência que o seu excesso equivaleria à negação da condição particular do homem como elemento da natureza? A natureza que existe é a nossa e não a dos invertebrados e é com ela que temos de contar ou seja, com a nossa presença nela. Creio que nem se apercebem disto. Trata-se de mais uma utopia. Os seus adeptos tomam os seus desejos por realidade. Voltar à natureza pura seria aceitar o eugenismo, a lei da selva, as epidemias, a doença e tudo aquilo contra o que a civilização e a cultura se desenvolveram ou seja, voltaríamos à fome, à peste e à guerra, embora no meio de ar puro e de águas límpidas. Voltaríamos à idade........

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