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A guerra cultural

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05.08.2025

Ao longo da história houve várias guerras culturais. Pode mesmo dizer-se que elas são constantes. O que não admira pois que é a cultura que molda a maneira como as pessoas vêem o mundo e agem em conformidade. Dela depende o entendimento da história, a compreensão da vida em família e em sociedade, da religião, da moral e das várias facetas da identidade. A cultura é ontológica para o ser humano. A guerra cultural faz-se pelo controlo daqueles elementos que fazem parte de nós todos. É a luta em torno da questão de saber o que é mais justo e racional. Quanto mais rico e avançado for o país mais assim será. Trata-se, em primeira mão, da luta pelo poder.

O domínio da cultura é, portanto, um poderoso instrumento político. Sabia-o bem o Santo Ofício, essa infame polícia da intimidade que vingou no nosso país durante mais de três séculos, bem como o Marquês de Pombal ao arredar os jesuítas do ensino e ao perseguir a alta nobreza da Corte. Também o sabia Bismark ao substituir o ensino clerical, que culminou com a expulsão dos jesuítas e o controlo estatal do ensino, pelo ensino oficial com receio de críticas ao estado e à unidade alemã em torno do Kaiser. Estaline e Hitler foram exímios na manipulação da guerra cultural e, mais perto de nós, Salazar e Franco também.

O esquerdismo marxista escolheu a luta pelo domínio cultural desde os anos vinte do passado século. Gramsci percebeu logo que sem o ascendente cultural a revolução seria impensável num país europeu. Sabia muito bem que as sociedades vivem de um substracto cultural que as cimenta, a que chamou «hegemonia». No caso italiano pontificava o catolicismo e daí a confessa admiração que Gramsci tinha pelo papel dos padres na consolidação do credo. Nas mesmas águas navegou a «teoria crítica» do capitalismo avançado da escola de Frankfurt, com ramificações até hoje. Pelo caminho ficou o marxismo ortodoxo com a sua estúpida tese da desvalorização da cultura como mera expressão das relações materiais de produção que a antecediam e da chegada ao poder na sequência de um «levantamento popular» dirigido pelo partido como se vivêssemos na Rússia de 1917. A transformação da luta de classes em luta pela hegemonia cultural é a prova que o marxismo-leninismo à moda de Álvaro Cunhal e de outros já há muito esgotou o seu prazo de validade. As massas não empobreceram, os lucros das empresas não desceram e o capitalismo não está em crise constante. Resultado; os passavantes da revolução já não são os trabalhadores. Não foi a esquerda que abandonou os trabalhadores. Eles é que abandonaram a esquerda e esta tem de caçar agora em........

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