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A Liberdade de expressão não é gratuita

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01.06.2025

O ambiente mediático atual é o pior de que há memória. Vivemos num panorama epistemológico fragmentado, onde comunidades inteiras passam a existir em realidades distintas. Desde movimentos alimentados por teorias da conspiração até à rejeição em massa do consenso científico, o colapso de uma base informativa comum tornou-se uma das maiores ameaças à democracia liberal. Está a ser fabricado, sustentado e monetizado.

A desinformação deliberada e a contra-informação (mentiras intencionais propagadas por motivos políticos, financeiros ou ideológicos) sequestraram o nosso discurso público. O processo Fox News contra a Dominion foi um exemplo de alto perfil desta quebra: comunicações internas e depoimentos juramentados revelaram que apresentadores e executivos do canal mentiram conscientemente à audiência sobre os resultados das eleições de 2020. Admitiram, em mensagens privadas, que não acreditavam nas teorias da conspiração que difundiam. Não se tratou de um erro jornalístico; foi uma decisão consciente e calculada de enganar os espectadores para preservar audiências e agradar a uma base politicamente radicalizada. A Fox resolveu o processo por 787,5 milhões de dólares no dia anterior ao início do julgamento, evitando maior exposição legal e escrutínio público sobre o seu funcionamento interno.

As consequências deste tipo de engano deliberado não são teóricas. O atual presidente dos Estados Unidos continua a negar a legitimidade das eleições de 2020, posição que mantém apesar de mais de sessenta decisões judiciais que não encontraram fraude suficiente para alterar o resultado. As suas alegações foram rejeitadas não só por juízes nomeados por democratas, mas também por republicanos, incluindo alguns indicados por Trump. Ainda assim, o mito persiste, mantido por um ecossistema mediático que continua a valorizar a lealdade tribal e o escândalo acima da realidade empírica. Nos meios alternativos, influenciadores marginais, propagandistas estrangeiros e algoritmos de recomendação co-produzem um fluxo constante de conteúdo tóxico que corrói a confiança pública e torna impossível alcançar consenso.

A resposta libertária típica à regulação da desinformação é bem conhecida: “Quem decide o que é desinformação?” Contudo, a questão, tantas vezes feita com um encolher de ombros é........

© Observador