África: entre a retórica libertadora e o peso do tempo
No século XX, a África Austral foi palco de algumas das lutas mais emblemáticas contra o colonialismo. Os partidos que emergiram destas lutas — ANC, FRELIMO, SWAPO, ZANU-PF, MPLA e Chama Cha Mapinduzi — carregavam em si a promessa de liberdade e dignidade para os seus povos. Meio século depois, permanecem no poder ou com forte influência política, mas a distância entre a utopia prometida e a realidade vivida é cada vez mais gritante.
Recentemente, esses partidos reuniram-se e, num gesto carregado de simbolismo, voltaram a repetir a narrativa que lhes tem servido de armadura: a de que os desafios que enfrentam — crises económicas, contestação popular, corrupção sistémica — são produto de forças externas, de interesses obscuros que buscam minar a sua soberania. A lógica é simples e poderosa: o inimigo continua a ser o “outro”, tal como no tempo da luta armada.
No entanto, a insistência nesta leitura já não convence como antes. Afinal, que “forças externas” explicam a incapacidade destes partidos, ao longo de cinquenta anos, de garantir........
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