O Abdulzinho
Sou ainda sócio-gerente de duas fabriquetas, ambas com mais de 40 anos, ambas financeiramente sólidas, ambas com uma razoável quantidade de máquinas automáticas e ambas tendo como clientes, exclusivamente, outras indústrias.
Infelizmente há tarefas (de movimentação de matérias-primas para alimentação de máquinas e transporte para outras máquinas ou retirada do produto final, por exemplo) que requerem operários. Poderiam ser robotizadas mas o investimento seria considerável, de modo nenhum compatível com a dimensão das empresas, seu volume de negócios e carteira de clientes, para não falar dos problemas levantados por séries muito pequenas, às vezes diminutas, requeridas frequentemente para tapar buracos ou em urgências.
Não faltam por aí teóricos que opinam que empresas assim devem desaparecer e ser substituídas por gigantones com moços sentados diante de computadores, as quais podem pagar muito melhores salários, têm produtividade muito superior e – maravilha das maravilhas – até empregam economistas e doutorados, duas variedades de cidadãos que dizem estas e outras profundidades.
Isto entendem eles, o mercado acha outra coisa, e continua a achar. Porque, se assim não fosse, estariam em risco de fechar. Não estão, mesmo que geridas preguiçosa e pouco empenhadamente porque a idade de quem as fundou (não estou sozinho) recomenda há anos a venda, se aparecer gente nova, ambiciosa e com crédito (não, não temos a intenção de oferecer) para as comprar.
Pois bem: Há que tempos que lá trabalham imigrantes – têm passado ucranianos, moçambicanos, argelinos e outros. Portugueses ainda são a maioria, mas já não são novos – os novos procuram outra coisa, e se não encontrarem dão à sola para pastagens mais verdes no estrangeiro.
Estes imigrantes aguentam-se geralmente pouco tempo porque são jovens, procuram melhores empregos e às vezes encontram, o trabalho é relativamente pesado e acontece terem solicitações familiares noutras terras, ou regressam à sua – motivos há muitos.
A qualidade varia, desde o medíocre até ao muito bom. Actualmente há um Nigeriano, de dois, que se distingue pela disponibilidade, empenho e rapidez de aprendizagem – veremos quanto tempo o poderemos conservar.
Não me vou dar ao trabalho de rebater o mais que previsível conselho de pagar, por exemplo, o dobro, porque teria de explicar por que razão isso não é possível; e não se pode explicar coisa alguma a quem tem um catálogo de soluções simples e inviáveis para problemas que não entende.
Este longo introito para dizer que sim, os imigrantes são necessários, a menos que se invente a maneira de convencer as mulheres a voltarem a ter filhos em grande quantidade, caso em que daqui a 20 anos o problema da imigração se resolveria facilmente fechando-lhe as portas. E se os 1,8 milhões de emigrantes portugueses regressassem, ui, que outro galo cantaria. Mas esses teimosamente deixam-se estar lá onde estão e quando........
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