O costume dos suspeitos
Calculo que, como eu, o leitor tenha ficado perturbado ao ler esta notícia: “Homem suspeito de decapitar outro em Lisboa fica em prisão preventiva”. Choca-me que, em todos os jornais que tenho visto, o homicida seja invariavelmente referido como “suspeito”, apesar de se ter apresentado no Hospital de São José com a cabeça da vítima e ter relatado à polícia, com pormenores muito concretos, a forma como efectuou o crime. Ou, se calhar para alguns repórteres, o suposto crime.
É escandaloso que, face a isto, a comunicação social continue a tratar um assassino confesso como um mero suspeito, desconfiando da sua palavra e pondo em causa a sua honestidade. No fundo, os jornalistas chamam-lhe mentiroso, imputando-lhe uma falha moral e uma mancha reputacional que se espalha até aos pais e comunidade de origem, que é quem ensina, desde crianças, que é feio mentir. Uma coisa é ser assassino, acontece, pode ser pontual, para a próxima tem-se mais cuidado; outra é ser aldrabão, um........
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