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TRUMPUTIN: da Cimeira do Absurdo ao Absurdo do Que Se Segue

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21.08.2025

Na sexta-feira, o mundo assistiu em directo a um inacreditável episódio de teatro geopolítico. Donald Trump e Vladimir Putin, encontraram-se na pista de uma base militar no Alasca como se estivessem a encenar o reencontro de dois líderes do mundo. Como se um deles não andasse a invadir vizinhos e o outro não parecesse ter a vontade de fazer o mesmo. Como se o “amigo Vladimir” não fosse apenas o ditador de um país que é cada vez mais, apenas um depósito de matérias-primas com armas nucleares, uma demografia em decadência e crescentemente dependente da China.

Com soldados americanos ajoelhados perante um ex-agente do KGB, Trump a aplaudir a criatura, caças F-35 a roncar no céu e um bombardeiro furtivo a deslizar como se fosse um pombo da paz, o cenário estava montado: não para uma negociação séria, mas para uma coreografia de vaidades e equívocos. A passadeira vermelha, estendida ao homem que há mais de três anos bombardeia a Ucrânia e que só não invade outros por ali perto, porque ainda não teve oportunidade e o garfo não chega para tantos pratos.

Putin veio com um plano simples: rejeitar qualquer cessar-fogo, culpar o Ocidente por tudo e, já agora, tentar convencer Trump de que a “operação especial” começou por culpa de Biden, e não, digamos, das nostalgias megalómanas da URSS, como Lavrov fez questão de assinalar simbolicamente.

Ao fim de três horas e sem um único gesto que não cheirasse a encenação, Trump comunicou a Zelensky, à NATO e ao mundo, que Putin é fantástico e não quer apenas um cessar-fogo, como ele humildemente pretendia.

Quer um “acordo global” para discutir as “causas fundamentais” da guerra. Traduzindo por miúdos, quer que lhe entreguem a Ucrânia embrulhada em celofane, com lacinho e aplausos.

As “causas fundamentais”, segundo o catecismo de Moscovo, são conhecidas: a ousadia da Ucrânia em querer continuar a ser um estado soberano, o desplante da NATO em existir e o ultraje de o Ocidente não deixar a Rússia reescrever fronteiras a tiro. Neste delírio, a “operação especial” não é uma guerra, muito menos uma invasão, é apenas uma legítima resistência estratégica à liberdade dos outros. E Trump, fiel ao seu talento para o disparate diplomático, começou novamente a repetir o refrão de........

© Observador