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Sérgio Sousa Pinto e o genocídio da razão

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21.09.2025

No passado dia 17, no carro, acompanhava a Rádio Observador. Miguel Pinheiro (MP) dialogava com Sérgio Sousa Pinto (SSP) sobre o reconhecimento da Palestina. A certa altura, MP perguntou-lhe o óbvio: como é possível que o Governo português, em julho, há escassas semanas, tivesse fixado condições muito claras para o reconhecimento, e agora, de repente, declare que não há obstáculo algum?

Recordemos as condições de julho: libertação dos reféns, dissolução do Hamas, realização de eleições. Eram condições sensatas, embora irrealizáveis no curto prazo. O que mudou entre julho e setembro?

Nada. Os reféns continuam em cativeiro, em condições bárbaras. O Hamas não desapareceu, continua armado, a controlar pelo terror a população de Gaza, e a fazer dela escudo humano, negócio, e figurante da mais básica propaganda. As eleições? Uma miragem muito ao longe, até porque, a acontecerem agora, seria o grupo terrorista a vencê-las.

E, ainda assim, o dr. Rangel anunciou que, afinal, não há entraves. O que em julho era essencial, em setembro já é descartável. O Governo desdiz-se com a maior das naturalidades, sem sequer tentar disfarçar.

É verdade que aquele comunicado inicial era uma fraude deliberada: não passava de um artifício para ganhar tempo, uma janela de Overton para normalizar a ideia, pois bastaria a promessa vaga de cumprir, e logo as condições se dissolveriam no ar. Hoje a fraude está exposta. O que antes era impensável, passa rapidamente a política em vigor.

Tenho, devo sublinhar, enorme consideração por Sérgio Sousa Pinto. É um político raro: frontal, racional, geralmente alheio às manobras de poleiro. Um tribuno de primeira água, capaz de esmagar um adversário mal preparado. Precisamente por isso, a sua opinião neste programa deixou-me perplexo, aquela........

© Observador