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Os nossos inimigos têm mísseis. Nós temos princípios

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29.10.2025

Nos últimos anos, os portugueses habituaram-se a ouvir falar de mísseis com a mesma naturalidade com que ouvem falar de futebol. Mísseis balísticos, mísseis de cruzeiro, mísseis hipersónicos. Há tempos, uma comentadora televisiva mencionou até um perturbador “míssil basilisco”. Um prodígio mito-zoológico da ignorância.

Um míssil balístico é como um foguete das festas populares. Sobe, propulsionado pela deflagração de uma substância química, atinge um apogeu e depois regressa à Terra em queda, arrastando consigo apocalipses em miniatura.

Foi inventado na Europa. O primeiro, o V-2 alemão, criado por Von Braun, foi lançado em 1942 e, dois anos depois, já caía sobre Londres e Paris semeando destruição e terror. Mais de três mil desses engenhos voaram nos últimos meses da guerra. Foi, literalmente, o primeiro objecto humano a tocar o espaço exterior, ao serviço da Alemanha e do Tio Adolfo.

Os misseis balísticos de curto alcance mantêm-se geralmente dentro da atmosfera terrestre, mas os de maior alcance viajam para fora dela, alguns vão mesmo para além dos 1500 km de altitude (a Estação Espacial Internacional orbita a 400 km de altura). Alguns atingem o solo a velocidades hipersónicas. O maior ataque de mísseis balísticos da história partiu do Irão, em 2024, com duzentos lançados de uma vez sobre Israel.

A Europa não tem nada que se pareça, porque resolveu não ter. Tirando a França e o Reino Unido, que mantêm uns quantos, mas apenas com ogivas nucleares, selados sob códigos que ninguém quer usar, o continente praticamente não tem mísseis convencionais de longo alcance. Mísseis balísticos terrestres? Quase zero. Mísseis de cruzeiro com mais de mil quilómetros de alcance? Meia dúzia, e quase todos lançados do mar.

Em contrapartida, o mundo fora do condomínio europeu parece uma feira de foguetões: Rússia, Irão, China, Taiwan, Coreias, Hezbollah, Houthis, todos com arsenais de mísseis capazes de atingir alvos a milhares de quilómetros.

Como chegámos aqui? Tudo começou........

© Observador