O que quer mesmo a Rússia?
Não, não é “desnazificar”, nem “proteger minorias”, nem “resolver as causas profundas”. Isso são os pretextos e pretextos não são causas.
Em 1997, Aleksandr Dugin escreveu “Os Fundamentos da Geopolítica”. Não é um mero tratado académico. É mais uma análise e um plano. De como Moscovo deveria agir para voltar a ser o centro de um império, e assim evitar a inelutável queda para o segundo plano da História.
Dugin recorreu aos clássicos da Geopolítica, Mackinder, Haushoffer, Mahan, mas temperou a teoria do Heartland com vodka, religião, etnonacionalismo e mitos históricos.
Quem controla a massa continental eurasiática domina o mundo. E, no meio dela está a Rússia, um país poderoso, com um pé na Europa e outro na Ásia, destinado a dominar. A Rússia deve, pois, ser o Império Eurasiático, e liderar um bloco continental contra o mundo atlântico, EUA e Reino Unido.
Como? O plano é claro e pragmático: reincorporar o espaço pós-soviético, enfraquecer o Ocidente com guerras híbridas, separar as ilhas britânicas e os EUA, da Europa, dividir a Turquia explorando as suas minorias, e usar a China como parceiro táctico, mas contendo a sua ascensão.
Putin tomou nota, e usou os seus escritos como referência intelectual para o nacionalismo russo que o sustenta. É dele que retira também as ideias gerais, a mitologia e o palavreado grandioso. Para Dugin, a independência da Ucrânia foi um “erro colossal” e um disparate histórico. Porque sem Kiev, a Rússia jamais poderá ser um império eurasiático.
Putin aplicou a lição. Disse mesmo que “O colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século XX.”
Pouco depois de chegar ao poder, atacou na Chéchénia, e ocupou parte da Geórgia. Mais tarde ompeu os tratados que garantiam o respeito pelas fronteiras ucranianas, anexou a Crimeia em 2014, fomentou guerra no Donbass e lançou a invasão total em 2022.
O objectivo é claro: recuperar a Ucrânia e, com isso,........
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