menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Mais uma “divina vitória”

8 1
01.07.2025

Segundo o aiatola Khameney, o Hezbolah e certos “especialistas” da CNN Portugal e da SIC-N, o Irão alcançou uma gloriosa vitória. Como?

No dia 13 de junho de 2025, Israel decidiu recordar ao mundo que existe, e que existe para sobreviver, não para participar em workshops de multiculturalismo nem para servir de tapete ao próximo fascismo teocrático com turbante. Atacou directamente o coração militar e nuclear de um país 75 vezes maior, 10 vezes mais populoso e com recursos quase míticos. Fê-lo com o implícito aval dos Estados Unidos, a fúria previsível da Rússia, do Eixo das Autocracias, e dos seus admiradores, e a simpatia silenciosa de quem, como o Chanceler alemão, admitiu que Israel estava a fazer o trabalho sujo que todos temem fazer.

O ataque foi brutal, letal e eficaz. Seria de esperar que esta demonstração de precisão e alcance levantasse menos sobrancelhas e mais copos. Mas em vez de aplausos, ergueram-se lamentos. O guichet do costume reabriu: quando Israel é atacado, deve conter-se; quando se defende, deve desculpar-se; quando vence, perde e deve ser investigado. Os peritos de sofá garantiram que o Irão esperava o ataque, que nada foi destruído em definitivo, e que o regime continua intacto, e até mesmo reforçado. Os mesmos que antes juravam que atacar o Irão era impossível, que Israel estava isolado, e que tudo não passava de propaganda. Erraram em tudo, mas persistem no erro com o ar de pau dos iluminados sem vergonha na cara.

Durante uns dias, assistimos a um espectáculo bizarro nos palcos mediáticos nacionais. Numa alquimia repentina, a “República Islâmica” desapareceu do vocabulário e deu lugar à Pérsia mitológica, berço de civilização e extraordinárias maravilhas. Khamenei passou de carrasco a uma espécie de sábia reencarnação de Xerxes. Teerão era outra vez a antiga Persépolis. A repressão interna, as mulheres sovadas e mortas por mostrarem o cabelo, os homossexuais enforcados em guindastes, o terror exportado para lá das fronteiras, os milhares de mísseis, a procura da bomba explicitamente declarada para destruir a “entidade sionista” tudo evaporado e sublimado nas fantasias das Mil e Uma Noites e na evocação de Xerazad. A qual, se vivesse hoje, já estava a fazer tijolo ou enjaulada numa masmorra por atentado à virtude. Já Israel, e a sua história milenar, valem o que os opinadores........

© Observador