Portugal nas Presas da Esfinge
As inflamadas discussões que do nosso parlamento se exteriorizam para o resto país – ou, em boa verdade, que da opinião coletiva encontram poiso na Assembleia da República – sobre a imigração, não acabaram com a aprovação do Decreto da Assembleia da República 6/XVII – que Altera a Lei n.º 23/2007, de 4 de julho, que aprova o regime jurídico de entrada, permanência, saída e afastamento de estrangeiros do território nacional. Tais discussões também não findarão com a possível promulgação das alterações pelo Presidente da República; e muito menos cessarão com o resultado que estas alterações transporão do plano jurídico para o reino dos factos.
E assim se deve pelo facto de que o problema que assola Portugal e que representantes do povo, cada um à sua maneira, visam resolver, não se encontrar disponível a soluções fáceis ou análises simplistas que têm por costume reduzir os problemas a puras situações económicas, xenófobas, ou a quaisquer outros rótulos pré-concebidos, prontos para fulminar opiniões contrárias. Não. Aos poucos começam a dissipar-se os tempos em que se tinha a perceção de que tudo podia ser solucionado por decreto – se bem que nem aí se acreditava que os problemas estruturais de uma sociedade estariam sujeitos à força de uma caneta promulgadora, isto porque a própria caneta, a própria lei, se recusava (e recusa) a mirar a realidade para além dos postulados impostos pelo Estado Liberal.
Cumpre confessar que o problema da imigração em massa consubstancia algo que vai além dos interesses da nossa cultura relativista: é uma arma de guerra cultural e, consequentemente, de um choque de civilizações.
De facto, a crescente presença de comunidades não-cristãs na Europa, em parte impulsionada por fluxos migratórios significativos, tem gerado preocupações em diversos setores da sociedade quanto à sua influência cultural e social. Paralelamente, observa-se uma tendência para a marginalização do cristianismo na esfera pública, com muitos governos, mesmo aqueles que se identificam como conservadores, a recorrerem a valores laicos amplamente aceites como forma de resposta à diversidade religiosa. Este cenário tem sido interpretado por alguns como um paradoxo: enquanto se procura integrar populações imigrantes com base em princípios de tolerância e inclusão, os partidos de esquerda acabam por ganhar protagonismo como defensores das democracias ocidentais, promovendo uma abordagem multicultural como alternativa pacífica ao extremismo.
O problema, contudo, reside no facto de que, neste plano, os próprios ideais democráticos e as fantasias multiculturalistas apresentarem-se como tabulas rasas –........
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