Escrevo no Sul, muito mais a Sul do que o Sul de Portugal, com a marca indelével da lassidão estival e do azul que se vê da janela. Para fazer uma pequena pausa no vício da política, deixo aqui algumas das leituras que me deram mais prazer na primeira metade do ano.

O Espanhol que Encantou o Mundo de Ignacio Peyró. Ao contrário de Lisboa, que, apesar da propaganda, não tem qualquer relevância cultural no mundo lusófono, Madrid e Barcelona ocupam um lugar absolutamente central na vida cultural da América Latina. Por exemplo, existe um mercado editorial único e as principais editoras continuam a estar na Cidade Condal e espalhadas no meio da Meseta. Comprar livros editados no Brasil em Lisboa continua a ser uma quase impossibilidade, à excepção da Livraria da Travessa na Politécnica que cobra preços de extorsão. Bendito acordo ortográfico que permitiu unir os povos irmãos. Ámen. Vem isto a propósito da riqueza intelectual e cultural espanhola que é capaz de gerar um objecto como ‘O Espanhol que Encantou o Mundo’. Aqui conta-se a história da Espanha contemporânea, desde as humildes origens galegas do Dr. Iglesias Puga, que comprou um andar em Argüelles, um detalhe importante na geografia sentimental da família, fazendo o percurso social de uma bela parte da classe média alta urbana que apoiava o Franquismo pela sua capacidade de manter a ordem e impedir que os vermelhos transformassem o país numa balbúrdia. No entanto, o Dr. Iglesias, ginecologista famoso na Madrid do Franquismo tardio, tornar-se-ia conhecido como pai de Julio Iglesias, biografado aqui de forma brilhante. Numa única página, vamos de discussões eruditas sobre Montaigne enquanto inventor do ensaio até à descrição das aventuras sexuais do cantor em Miami, quando a sua filha mais velha saía do quarto para a escola e via cuecas de fio dental espalhadas pela casa. Enquanto vai apresentando o percurso de Iglesias, que, fiquei a saber, é dono de uma ética de trabalho incansável, que o ajudou a vencer no difícil mercado americano, vemos a........

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