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Uma indignação programada

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17.05.2025

Tal como o cão volta ao seu vómito, assim o louco repete as suas loucuras. E assim as palavras confundidas continuam a querer enganar. Primeiro foram os disfemismos à compita e em tom maior; depois vieram os eufemismos em bocas doces e cores outonais, mas que, pela sonega, diziam a mesmíssima coisa – Israel repete a Alemanha nacional-socialista. Surgiu agora uma nova versão. Abateu-se um silêncio insuportável sobre a guerra em Gaza, na qual os israelitas chacinam o povo palestiniano. E esse silêncio, essa indiferença, segundo se afiança, só é comparável «ao encolher de ombros de todos os sabiam que o Holocausto estava em curso […] e nada fizeram». A equação das indiferenças pressupõe, tão tácita como perversamente, a equação dos acontecimentos. Importa, por isso, trazer à luz o tertium comparationis não temático.

Gaza é um território delimitado, ocupado por uma população determinada, que comunga na sua maior parte da mesma religião, partilhada por mais de mil milhões de pessoas, organizadas em dezenas de Estados soberanos. Há associações de apoio, defesa e sensibilização para os direitos do povo palestiniano espalhadas por toda a Europa. O conflito é coberto por meios de comunicação de ideologias e tendências diversas, dos católicos aos comunistas, abrindo telejornais e ocupando milhões de páginas em todo o mundo. Casas editoras publicam, traduzem e difundem obras académicas, de divulgação e de propaganda da causa palestiniana. Há manifestações, petições, cartas abertas, abaixo-assinados. O Secretário-Geral das Nações Unidas, pronuncia-se, o Alto Representante da União Europeia para os Negócios........

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