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O vestido inglês

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31.07.2025

Sempre houve gente ingénua, facilmente impressionável, emotiva e voluntarista que, em nome das boas causas, fez e defendeu coisas perfeitamente idiotas. Em meados do século XIX, no romance Bleak House — publicado em Portugal como A Casa Sombria — Charles Dickens deixou-nos o arquétipo desse tipo de pessoas na personagem de Mrs. Jellyby, uma senhora de posses, de fortes inclinações filantrópicas e que dedicava muito do seu tempo e da sua energia a pôr de pé aquilo que designava por “empreendimento de Borrioboola-Gha”, uma iniciativa para ajudar os negros de uma remota região africana. A ideia era transportar ingleses pobres para África, a fim de que aí se estabelecessem e ensinassem os negros a cultivar café. Na sua imaginação isso solucionaria o problema da desigualdade racial e melhoraria a vida de todos os envolvidos. Ou seja, de uma só cajadada ajudaria a resolver os problemas sociais e económicos da pobreza em solo britânico e africano.

A senhora era uma activista avant la lettre. Passava o dia a escrever cartas, a elaborar listas, a tratar da organização do seu empreendimento, a pôr de pé mil actividades redundantes ou desnecessárias. Mrs. Jellyby empenhava-se na confecção de camisolas de lã para os pobres negros, mas ignorava as necessidades da gente miserável com que todos os dias se cruzava em Londres e, até, as da sua própria família. A sua casa era caótica e os cinco filhos andavam sujos e ao Deus dará, excepto Caddy, a filha mais velha, que desempenhava as funções de secretária da mãe. Mas a obsessão da senhora com o........

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