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Duas notas a propósito de reparações

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09.11.2025

Saiu no mês passado a quarta colectânea das crónicas sobre questões de história colonial que desde 2017 tenho vindo a fazer na imprensa. Foi publicada, como as colectâneas anteriores, pela Guerra e Paz e o seu título é Reparações e Outras Penitências Históricas. A capa mostra Seh-Dong-Hong-Beh, uma comandante das amazonas, ou mulheres-guerreiras do Daomé, segurando a cabeça decapitada de um negro, num desenho de Frederick E. Forbes (ver imagem).

Forbes, um oficial da Royal Navy, visitou o reino do Daomé em meados do século XIX, residiu aí durante muitos meses e deixou-nos, numa memória publicada em 1851, a narrativa dessa estadia bem como várias ilustrações de habitantes do reino africano. Muito simpaticamente a revista do Expresso referiu a minha colectânea na sua secção de livros, o que lhe agradeço, mas surpreendentemente, em vez de reproduzir a imagem da capa, como é usual, substituiu-a por uma fotografia de ferros e outros apetrechos presumivelmente usados por europeus e destinados a prender escravos. Ou seja, substituiu a imagem da brutalidade africana pela alusão à brutalidade europeia. Terá sido uma simples opção de paginação, ou terá havido relutância politicamente correcta em expor as violências que os africanos faziam uns aos outros? Não sei dizer e não quero fazer processos de intenção, mas lá que é insólito…é.

Imagens à parte, o Expresso afirma que as reparações são “um dos grandes temas de discussão na actualidade” e assegura, muito acertadamente, que eu sou contra elas. E porque é que sou contra reparações a pessoas que se dizem descendentes de escravos?........

© Observador