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A Sábado e os negreiros portugueses

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13.11.2025

O último número da revista Sábado oferece-nos um extenso artigo sobre negreiros e suas fortunas. Esse artigo teve mesmo honras de capa sob o título “Os grandes traficantes de escravos em Portugal” e é justo reconhecer que, ao contrário do que muitas vezes acontece, está razoavelmente bem elaborado. O seu autor, o jornalista Marco Alves, leu algumas obras historiográficas e procurou fundamentar o que escreveu sobre os portugueses que nos séculos XVIII e XIX negociaram em escravatura e dela extraíram elevados lucros.

O articulista, porém, fez duas importantes confusões que induzem os leitores em erro e que é necessário desfazer. A primeira confusão resulta da mistura num mesmo saco de duas nacionalidades diferentes. O negreiro Francisco António Flores, por exemplo, não era português como Marco Alves supõe, mas sim brasileiro. O mesmo acontecia com os irmãos Sousa Breves. Quando o Brasil se tornou independente certas pessoas aí residentes optaram por permanecer portuguesas, outras escolheram ser brasileiras. O articulista não faz a destrinça, julga que é tudo português e, consequentemente, sobrecarrega o nosso país com as acções de gente que, de facto, não era súbdita da Coroa Portuguesa. Aliás, até o sobrecarrega com António Maria Bravo, um português que se fixou no Rio de Janeiro, em 1836, e que utilizava nas suas indústrias, como era vulgaríssimo nessa cidade e nessa época, mão-de-obra de escravos, mas que, como o próprio articulista reconhece, não estava envolvido no tráfico transatlântico de negros. A que título, então, aparece o seu nome neste artigo? Apenas a título de ser um antepassado de João Maria Bravo, um recente financiador do partido Chega, o que ilustra a confusão de planos em que o artigo frequentemente cai.

Outra confusão, bem mais grave........

© Observador