Por Que Razão as Sociedades Modernas Não Gostam de Crianças
As sociedades modernas ocidentais afirmam, com convicção quase ritual, que ”as crianças são o futuro”. Dizem-no com facilidade, repetindo-o em discursos públicos e inscrevendo-o como desígnio em programas políticos e campanhas institucionais. No entanto, basta observar com alguma atenção o modo como essas mesmas sociedades se organizam para perceber que algo não bate certo. As crianças são toleradas, protegidas em abstracto mas – e essa diferença é decisiva – raramente são colocadas no centro das nossas preocupações e da atenção e cuidado que lhes seriam devidos.
Desde o pós-Segunda Guerra Mundial, período paradoxalmente marcado por uma prosperidade material sem precedentes, a infância foi sendo progressivamente despojada daquilo que a tornava “humana”: a presença contínua dos adultos, a família alargada, o tempo partilhado, a comunidade, a educação.
Nunca, como hoje, as crianças tiveram tantos objectos, tantos dispositivos, tantos estímulos — e nunca estiveram tão sozinhas. Isoladas em actividades silenciosas, separadas dos demais por horários, actividades e ecrãs, crescem rodeadas de conforto, mas inexoravelmente privadas de relação.
A criança moderna é frequentemente uma criança solitária. E não por acidente. O modelo económico e laboral dominante tornou a parentalidade um custo individual, não um bem colectivo. Trabalhamos demasiado, deslocamo-nos demasiado, exige-se-nos disponibilidade permanente e ter filhos surge, no discurso corrente, como uma densa limitação da liberdade pessoal, um entrave à realização pessoal, uma ameaça à mobilidade. Uma sociedade que estrutura a vida adulta de modo incompatível com a presença de crianças não pode, em rigor, afirmar que gosta delas.
Neste contexto, os universos digitais — e, em particular, os jogos de computador — devem ser observados menos como causa e mais como solução funcional. São substitutos de relação num mundo que retirou à criança o contacto humano regular, oferecedo controlo onde há instabilidade, recompensa onde há ausência, previsibilidade onde há abandono. Mas fazem-no à custa da aprendizagem do conflito real, da frustração, da empatia, da leitura do outro e do desenvolvimento físico e até cultural. Nessa medida, os jogos de computador não isolam as crianças, respondendo antes, competentemente, ao isolamento que já existe,........





















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