O discurso de Vance foi um bom discurso
O discurso de Vance em Munique dividiu a Europa e Portugal. Uns acharam que foi um excelente discurso e já olham para Vance como o novo líder do conservadorismo ocidental. Outros tratam o discurso com um dos piores exercícios retóricos de sempre, desde uma provocação sem precedentes aos europeus até ao momento em que acabou a relação transatlântica. Também há uma minoria, talvez sensata, que não deu uma grande importância ao discurso. Eu estou mais próximo dos primeiros, mas não considero o discurso excelente por duas razões, ambas externas ao discurso, mas significativas. Uma, foi proferido numa conferência de segurança e de defesa, mas não tratou desses assuntos. O tema foi a guerra cultural no Ocidente. Em segundo lugar, o passado de Vance não me permite considerar o discurso excelente. Uma pessoa que não reconheceu o resultado das eleições presidenciais nos Estados Unidos em 2020, carrega uma mancha quando defende a democracia e a liberdade de expressão.
Dito isto, no contexto do tema do discurso, guerras culturais entre conservadores e progressistas, foi um bom discurso e que os europeus precisavam de ouvir. A maioria das elites europeias deixaram de respeitar o conservadorismo, com grande culpa por parte da direita. Era necessário um político com poder fazer um discurso a partir de uma posição conservadora, que simultaneamente defendesse a liberdade e a legitimidade das posições conservadoras. Foi o que fez Vance. O argumento central é que na Europa as posições dos conservadores, dos cristãos e de outros, não só são sistematicamente atacadas pelos defensores do progressismo social, como a sua liberdade individual é muitas vezes ameaçada, sobretudo a liberdade de opinião. Ao contrário do quealguns disseram, o discurso não foi sobre o aborto nem sequer sobre a liberdade religiosa. Esses temas foram usados como exemplos para a defesa da liberdade de promoção de ideias e valores conservadores.
O progressismo social assenta em dois pontos centrais. Em primeiro lugar, na interpretação progressista da história, onde o “progresso” separa os que estão certos dos que estão errados. No contexto desta leitura da história, os conservadores........
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