Se acabó la fiesta?
O país que nos deu Dom Quixote descobriu finalmente o seu moinho de vento definitivo, Pedro Sánchez, um cavaleiro que luta não contra gigantes imaginários, mas contra a própria realidade, numa cruzada épica para manter o poder a qualquer custo. Shakespeare ficaria com inveja desta tragicomédia, ou seria um drama? A esta altura, nem o próprio Sánchez sabe em que género se encontra.
Claro que não é a primeira vez que a Espanha se vê numa encruzilhada política. A História hispânica tem mais voltas que uma tourada, com episódios em que a nação se dividiu entre extremos como se fosse um menu de tapas mal temperadas. Desde as guerras carlistas (quando pelo menos se sabia por que se lutava) até à Guerra Civil, passando pelas convulsões da Transição, o país especializou-se em transformar política em espetáculo. Mas desta vez, o circo tem um diretor que vendeu a bilheteira aos próprios críticos do espetáculo.
O fervoroso sentimento pátrio espanhol, esse orgulho secular que levou os conquistadores a descobrir meio mundo (e que os fez acreditar que o outro meio também lhes pertencia), encontra-se hoje numa posição mais paradoxal que um toureiro vegetariano. O governo de Pedro Sánchez sustenta-se no apoio de partidos independentistas catalães e bascos, alguns dos quais trocaram as bombas pelos votos, numa reconversão profissional digna de um curriculum vitae do LinkedIn.
Imagine-se a cena, o guardião da unidade nacional a jantar todas as noites com aqueles que sonham em parti-la aos bocados. É como contratar uma raposa para guardar o galinheiro, mas dar-lhe ainda as chaves do cofre. Esta bomba-relógio política tem um cronómetro tão preciso que até os relojoeiros suíços ficariam........
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