As lições do fogo da Serra Amarela: queremos aprender?
Por esta hora a que escrevo estas linhas continua a lavrar pelo 5º dia o incêndio de Ponte da Barca que atinge a Serra Amarela no nosso único Parque Nacional, a Peneda-Gerês (PNPG).
Não se sabe bem de onde vem este nome de Serra Amarela. Uma possível explicação é tratar-se de uma corrupção de (Serra de) “Mourela” dados uns vestígios pré-históricos que as populações associaram – como tudo o que era antigo – aos Mouros. Outra, pode vir da própria paisagem, que na primavera, com a floração de carquejas, tojos, giestas, piornos, etc., fica pintada de amarelo.
Nomes à parte, é esta paisagem que nos interessa: uma “estepe cultural” (como lhe chama Ramil-Rego), resultante das principais atividades humanas que esta áspera serra permitia – o cultivo do centeio e a criação de gados. O centeio é um cereal de inverno. Os habitantes das pequenas comunidades serranas cortavam o mato queimavam-no, cavavam-no e semeavam o cereal que crescia quando, nos longos e frios meses de inverno, a serra estava vazia de gente. No fim da primavera colhia-se o centeio e levavam-se os gados para o cimo da serra onde passava o verão a pastar. Para renovação destes pastos, volta e meia faziam-se queimadas – que levavam os matos a lançar rebentos novos e tenros, bem como à germinação de gramíneas.
E assim estabeleceu-se esta paisagem por milénios: trabalhos arqueológicos identificaram vestígios de cavadas de centeio e transumância de gados, ainda pré-romanos, atestando a sua antiguidade. As Inquirições do séc. XIII ou as Memórias Paroquiais do séc. XVIII reafirmaram a continuidade desta dura economia comunitária ao longo dos séculos. E ainda no fim desse século XVIII, a visita de Hoffmansegg e Link (1798) traz-nos uma descrição escrita:
“As montanhas são muito altas, íngremes e rochosas, a maior parte das vezes sem floresta (…) Em vez de árvores as montanhas estão cobertas por um matagal (…) muito áridas e não têm quase nada a não ser cistos e urzes.”
Notem que esta descrição........
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