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Outra História

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07.12.2025

Não há quem não saiba que a História é feita pelos vencedores. Aqui e em todo o lado. Mas sabe-se também que a História oficial, sobretudo quando não prima pela verdade, tende a ser efémera. E pode sempre rever-se e refazer-se.

Sobre o 25 de Novembro, cuja celebração parece causar grande consternação à esquerda e na Esquerda e motivar jogos florais, já escrevi o que tinha a escrever – mais recentemente, num livro organizado por Jerónimo Fernandes, que reúne um tenebroso conjunto de 32 autores de “extrema-direita”, digamos que uma Hidra de 32 cabeças onde, entre “passistas” e outros perigosos fascistas e extremistas, até cabeças (!) do Chega serpenteiam.

Apesar de terem sido os Comandos de Jaime Neves – entre os quais os Convocados, ou seja, os que tinham servido no Ultramar e voltaram às fileiras para parar a Esquerda radical – a fazer o 25 de Novembro, o que resultou do dia foram 50 anos de Centrão, isto é, de poder repartido entre o PS (mais à esquerda e por mais tempo) e o PSD (menos à esquerda e por menos tempo). Ficaram também como eternos cronistas da República historiadores e intelectuais de esquerda, nas suas várias sensibilidades e modalidades, assistindo-se ainda à súbita conversão à democracia eleitoral e à respeitabilidade democrática do Partido Comunista Português.

Sem o 25 de Novembro, sem os Comandos, sem os Convocados e a Força Aérea que, no terreno, evitaram a vitória da Esquerda radical, não teríamos em Portugal democracia liberal. Teríamos um regime comunista com alguns esquerdistas festivos no poder, bons rapazes, simpatizantes de Trotsky e dos maoistas, como os que torturaram presos políticos no RALIS e na Polícia Militar e se dedicaram a fuzilamentos simulados em vários aquartelamentos. Tudo boa gente. De qualquer forma, com Ialta em vigor, com o “povo do Norte” em alvoroço e uma coligação negativa, da extrema-direita o Grupo dos Nove e ao PS, a festa nunca iria durar muito. Mas os estragos e o prejuízo seriam consideráveis.

Não digo que o Centrão e militares como Vasco Lourenço ou outros do Grupo dos Nove alinhassem nas veleidades, barbaridades e festividades da esquerda radical, mas se não fossem, no terreno, os Comandos de Neves, os oficiais da Força Aérea e os paraquedistas do brigadeiro Almendra chegados de Angola, não sei bem quem tiraria do poder os revolucionários. Costa Gomes e os “moderados”? Duvido.

O Dr. Soares, quando percebeu que o PREC e a Extrema-Esquerda não queriam fazer a festa só contra os “fascistas” e os “reaccionários”, também teve um papel na resistência. A política é assim: o Inimigo nem sempre faz o Amigo, mas faz muitas vezes o aliado útil e objectivo.

Estou à vontade quanto ao Estado Novo, onde não tive cargos ou responsabilidades. Nem eu, nem os meus companheiros do Jovem Portugal e depois da Política, nem tão pouco os nossos amigos do Grupo de Coimbra fomos alguma vez salazaristas. O nosso empenho era a defesa do então Ultramar, talvez........

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