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Morte ao portador das más-novas: a Europa e a América

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14.12.2025

Foi com incredulidade e consternação que “a Europa” e o seu numeroso contingente de opinionmakers, influencers, comentadores e colunistas, recebeu o memorando 2025 National Security Strategy, da Administração Trump. E o choque foi tal que muitos até viram coisas que lá não estavam.

Não era para menos: para os eternos desprevenidos, o documento tinha a brevidade brutal de um murro no estômago e a consequente clareza na definição de amigos e inimigos, de objectivos, estratégias e críticas.

Perante o documento, podíamos aceitar a realidade, a nova realidade, lamentando o fim da era da hipocrisia, “a última homenagem que o vício presta à virtude”, e o mundo cru e sem o consolo da sinalização de virtude que abria. Mas parece que já não vai ser preciso: o fim da era da hipocrisia ainda só chegou à Administração norte-americana, uma vez que, ao que tudo indica, “a Europa” promete continuar a manter-se firme no farisaísmo.

Em bom estilo trumpista, o dito documento abre então com uma crítica às elites dos EUA, que até agora confundiram “os interesses nacionais norte-americanos” com o domínio do globo. Foi a política dos neoconservadores, que se obstinaram em tentar exportar, à força e pela força, o modelo político-económico americano, semeando conflitos desde os Balcãs ao Médio Oriente, da Sérvia e Ucrânia ao Iraque e ao Afeganistão. Algumas destas guerras com resultados perversos, como o fim dos “cristãos do Oriente” ou a “retirada” do Afeganistão no tempo de Biden.

Palavras duras para quem combate o “discurso de ódio da extrema-direita” e dispõe da amplamente distribuída “licença para odiar” Trump, trumpistas e afins (licença de porte obrigatório para quem quer singrar em televisões e comissões e correr o risco de se deixar cegar).

Assim, este documento de estratégia nacional 2025, que traz a inequívoca marca de Trump e do America First, mesmo que não fosse chocante, seria sempre um choque para auditórios e cenáculos habituados a que os amargos e por vezes pouco éticos fins e meios políticos se escondam sob as doçuras de uma espessa camada de grandiloquência retórica........

© Observador