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De que falamos quando falamos de “sistema”?

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05.10.2025

Os regimes políticos criam um sistema e enquistam-se nele. Um sistema que, não sendo contrário às instituições, permite manipulá-las e gerar um estado de coisas capaz de garantir que os donos do poder permaneçam no poder.

Em Portugal, na Primeira República, os “democráticos” do Partido Republicano Português ganhavam quase sempre as eleições. Para isso tinham criado leis eleitorais que davam vantagem às grandes cidades (Lisboa e Porto) sobre o campo. Tinham também tirado o voto aos analfabetos (dos cerca de um milhão de eleitores dos finais da Monarquia passou-se aos cerca de 350.000 da República) e não o deram às mulheres (que diziam vulneráveis à manipulação do clero). E tinham milícias e braços mais ou menos armados – a Formiga Branca e os Carbonários – que “orientavam” ou até “corrigiam”, oportunamente, o voto popular.

Uma das razões do triunfo da Ditadura Militar, em 28 de Maio de 1926 (faz para o ano um século), foi a falta de verdade e a arrogância com que Afonso Costa manipulou o sistema, a partir de uma ideia de superioridade moral e intelectual da esquerda republicana e livre pensadora (logo, boa) sobre a direita monárquica, católica e reaccionária (logo, ).

O Estado Novo, construído a partir dos confrontos de correntes na Ditadura Militar, foi o resultado do pensamento e da obra de Salazar, que se soube impôr aos militares e negociar com o Exército um pacto de regime, criando um modelo híbrido de nacionalismo conservador e autoritário. Nos anos 30, com a Europa dividida entre as monarquias constitucionais e liberais inglesa e nórdicas, as para-ditataduras da Europa Oriental, o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão, o autoritarismo do Estado Novo aparecia como um regime “normal” e, em certa medida, até centrista, entre a esquerda republicana e conservadora e os radicais fascistizantes.

O sistema........

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