Claudia Cardinale (1938-2025)
Quando comecei a ver cinema (a “ir ao cinema”, como se dizia), o cinema italiano era um grande cinema, para não dizer o grande cinema. A começar pelos realizadores, os Visconti, os Fellini, os Pasolini, os Antonioni, os Monicelli, os Risi, os Rossellini, os De Sica, criadores admiráveis em todos os géneros, da comédia mais divertida à tragédia mais shakespeariana.
Mas para nós, miúdos, muito mais do que os realizadores, que até à adolescência nos passavam relativamente despercebidos, impressionavam-nos os actores – um cómico admirável, como Antonio de Curtis, Totó, um actor genial para papéis mais sérios, como Marcelo Mastroianni, ou alguém preparado para todos os géneros, como Vittorio Gassman. E mais ainda que os actores, fascinavam-nos as actrizes.
Estávamos no Portugal dos anos 1960, a sair da Igreja pré-conciliar de Pio XII, e as nossas “referências artísticas” eram americanas (como a Marilyn Monroe, a Rita Hayworth ou a Ava Gardner, que víamos nos filmes e nas páginas do Século Ilustrado), francesas (como a Brigitte Bardot de Et Dieu créa la femme ou a Catherine Deneuve de Belle de Jour) e italianas (como a Silvana Mangano, a Sofia Loren, a Gina Lollobrigida, a Monica Vitti… e a Claudia Cardinale).
Claudia Cardinale era uma italiana nascida na Tunísia, então um domínio francês, onde, com 19 anos, ganhara um concurso de beleza. O primeiro prémio dava direito a uma semana em Veneza com acompanhante. Claudia levou a mãe e voltou para a Tunísia. Estávamos em 1957. Não passou um ano até que saísse da Tunísia para o grande écran, com I Soliti Ignoti, de Mario Monicelli.
Era o começo. Em 1960, estava em Rocco e i Suoi Fratelli, de Visconti, com Alain........
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