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Sobre as “percepções de insegurança” dos europeus

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14.12.2025

É preciso dizer sempre aquilo que vemos; mas — e nisso reside a maior dificuldade — é preciso, antes de mais, saber ver aquilo que verdadeiramente vemos”.
(Charles Péguy, Notre Jeunesse).

Esta citação do escritor francês Charles Péguy resume de forma exemplar uma das críticas que podemos dirigir a muitos jornalistas, políticos, comentadores e, sobretudo, a certos “intelectuais” quando abordamos o tema da imigração massiva. Muitos reconhecem que a actual situação migratória começa a tornar-se insustentável, mas poucos têm a coragem de enfrentar o assunto. É uma característica recorrente entre os intelectuais ocidentais, sobretudo à esquerda, a tendência para fechar os olhos como forma de preservar os seus ideais (e os seus confortáveis empregos). Os intelectuais marxistas que viviam no conforto das sociedades democráticas e capitalistas ocidentais revelavam-se incapazes de relatar o que realmente observavam durante as suas viagens à URSS. Jean-Paul Sartre, que visitou a URSS sem nunca ousar verdadeiramente criticar o regime ditatorial soviético, é um exemplo perfeito dessa cegueira — tal como Bourdieu, que continuou até à morte a defender o regime dos Khmers Vermelhos.

A liberdade de expressão é um dos bens mais preciosos das sociedades chamadas “democráticas”. Contudo, não é invulgar vermos alguém ser condenado por dizer aquilo que, supostamente, não deveria ser dito — ou, mais precisamente, por afirmar aquilo que certas elites no poder preferem que a maioria não oiça. Se hoje já ninguém é preso — quanto mais condenado à morte — por expressar opiniões consideradas politicamente incorrectas, existem outras formas eficazes de silenciamento: impedir que seja convidado por qualquer meio de comunicação; pressionar empregadores para que o dispensem, sobretudo se se tratar de um jornalista; encerrar-lhe as contas bancárias (como já aconteceu em França ou no Reino Unido); ou aplicar-lhe multas pesadas. Há temas que, em alguns países europeus, não podem ser abordados sem nos expormos à retaliação de certas elites, sobretudo de esquerda. Entre eles está o polémico assunto da “imigração e insegurança”. A pergunta é simples: a imigração massiva de pessoas oriundas de culturas profundamente distintas da nossa aumenta a criminalidade? A resposta, porém, está longe de se resumir a um simples “sim” ou “não”. É complexa, cheia de nuances e varia de país para país.

Exemplo: há muitos ucranianos em Portugal, França e no Reino Unido. Costumam integrar-se facilmente, apresentam uma taxa de criminalidade muito baixa — por vezes inferior à dos próprios nativos dos países para onde emigram — e os filhos tendem a alcançar rapidamente bom desempenho escolar. A primeira conclusão que retiro de todos os estudos que li é simples: a imigração não aumenta, por si só, a criminalidade de um país, tudo depende do tipo de imigração que esse país recebe. Daqui decorre a segunda conclusão: a taxa de criminalidade varia significativamente consoante as populações imigrantes em causa. Vários factores entram em jogo, mas alguns são particularmente relevantes. Qual é a origem da maioria dos imigrantes? Provêm ou não de culturas muçulmanas? Chegam de sociedades de organização tribal, onde o clã é o alfa e o ómega da vida social? Vêm de países em guerra ou em paz? De regiões com elevados níveis de analfabetismo ou com sistemas educativos sólidos? De sociedades desenvolvidas ou de países do chamado terceiro ou quarto mundo? De contextos onde a mulher é tratada como cidadã de segunda categoria, ou de países onde as mulheres usufruem dos mesmos direitos que os homens? De lugares onde a justiça estatal é forte e imparcial, ou de sociedades onde a justiça assenta na vingança do clã — por vezes exercida pela faca? Pertencem à mesma civilização do país de acolhimento, ou a uma civilização profundamente distinta? Todas estas variáveis têm de ser cuidadosamente consideradas. Terceira e última conclusão: a esmagadora maioria dos imigrantes não comete crimes; apenas uma minoria o faz, variando essa percentagem de menos de 1% em certas populações até 5 ou 6% noutras. Não devemos, portanto, cair em demagogias fáceis; o tema deve ser estudado de forma serena e desapaixonada.

“Em matéria de migração, estamos muito avançados. No seio deste governo federal, conseguimos reduzir os números de agosto de 2024 a agosto de 2025 em 60%, mas, naturalmente, continuamos a enfrentar este problema no panorama urbano. É por isso que o ministro federal do Interior está a autorizar e a realizar repatriamentos em grande escala. Esta política deve manter-se, pois foi o que ficou acordado dentro da coligação”.

Esta citação não foi proferida por um membro da direita radical AfD. Foi dita pelo chanceler alemão, Friedrich Merz. Quando um jornalista lhe pediu que explicasse o que entendia por “problema no panorama urbano”, Merz limitou-se a responder: “perguntem às vossas filhas o que é que eu quis dizer com isso” (fonte). Um pouco por toda a Europa, temos vindo a assistir a uma liberalização do debate sobre este tema polémico. Políticos, intelectuais, articulistas, investigadores e filósofos ligados à direita têm reconhecido cada vez mais a ligação entre “imigração extra-europeia” e “aumento da criminalidade”. E, contrariamente ao que o ministro da justiça francês Eric Dupond Moretti afirmava (posição posteriormente repetida por um ministro português), a insegurança em França — ou noutros países europeus — não é apenas um “sentimento”, mas uma realidade.

Porque razão o chanceler alemão apontou a imigração de extra-europeus — sobretudo muçulmanos — como causa do aumento da violência e da criminalidade na Alemanha? Vejamos. Já em 2024, o governo alemão, através da ministra do Interior, Nancy Faeser, afirmara que os imigrantes eram responsáveis pelo agravamento dos índices de criminalidade. Muitos dos criminosos estrangeiros estavam envolvidos nos delitos mais graves: assaltos violentos, violações, crimes de pedofilia e homicídios (fonte).

Segundo os mesmos dados, afegãos, paquistaneses e congoleses encontram-se sobrerrepresentados nos crimes de natureza sexual. Um relatório do Ministério do Interior alemão indica que, na Alemanha, os nacionais afegãos encontram-se 21º vezes mais representados nas estatísticas relativas a casos de violação de menores (fonte). Os mesmos afegãos cometem também 15 vezes mais violações do que os cidadãos alemães (fonte). Para reforçar esta associação, a ministra do Interior citou o caso de Frankfurt onde, em 2023, 100% dos assédios sexuais, 62% das violações, 54% dos homicídios e 87,5% dos roubos qualificados foram cometidos por estrangeiros, a grande maioria oriunda de fora da Europa (fonte). Após mais de vinte anos de descida contínua, o crime violento voltou a aumentar na Alemanha. Analisando os números de 2023, verificamos que os crimes violentos subiram 8,5% face a 2022, e 19,8% em 2024 relativamente ao ano anterior. Nesse mesmo ano, 923 mil suspeitos detidos pela polícia eram estrangeiros, o que correspondia a 41% do total de suspeitos identificados (fonte).

Quando observamos estes números — e recordamos o caso das agressões sexuais de Colónia na Passagem de Ano de 2016, cometidas maioritariamente por refugiados muçulmanos recém-chegados — compreendemos mais facilmente as declarações de Friedrich Merz. Já em 2019, o governo alemão fora alertado por um estudo oficial encomendado pelo Estado federal, o qual concluía que 10% dos crimes mais violentos do ano anterior haviam sido cometidos por imigrantes e refugiados, muitos deles provenientes de........

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