O Ultimato dos 5%: as fragilidades da NATO a descoberto
A decisão da NATO, selada na cimeira de Haia no dia 25 de Junho, de visar 5% do PIB dos membros integrantes para a defesa não é o que parece. Apresentada como um ato de coesão estratégica perante um mundo mais perigoso, a realidade é mais crua: esta é a anatomia de uma capitulação política, o culminar de anos de pressão e a formalização de um medo que assombra as capitais europeias – o medo do abandono americano. Este artigo defende que a nova meta, forjada menos pela ameaça russa e mais pelo ultimato de Donald Trump, expõe as fraturas profundas da Aliança, cria uma perigosa dependência industrial dos Estados Unidos e força os seus membros a uma escolha impossível entre a soberania orçamental e a lealdade a um protetor cada vez mais transacional.
A arquitetura desta decisão assenta em três pilares que, juntos, revelam a sua verdadeira natureza. O primeiro, o mais visível e que criou um dos maiores alvoroços internos, é o pilar do ultimato trumpiano. A insistência de Donald Trump para que os aliados aumentassem as suas despesas foi uma constante desde que voltou a assumir a presidência dos Estados Unidos. No entanto, a sua retórica escalou para ameaças explícitas que estilhaçaram décadas de protocolo diplomático. A sua afirmação, durante o tempo de campanha para as presidenciais, em fevereiro de 2024, de que “encorajaria” a Rússia a “fazer o que raio quisesse” com os membros “delinquentes”, porque não contribuíram com a sua quota parte para a NATO foi um ponto de viragem, mas desvalorizada por muitos. Esta declaração transformou a negociação numa coação, e a meta dos 5% tornou-se, para muitos, uma apólice de seguro contra a imprevisibilidade de Washington. A sua aceitação é, inegavelmente, uma vitória política para Trump, que conseguiu, mesmo antes de reocupar a presidência, vergar a Aliança à sua vontade através da força da sua retórica.
O segundo pilar é o do desequilíbrio industrial e o benefício americano. Um aumento tão massivo e rápido dos orçamentos levanta uma questão imediata: quem irá fornecer o equipamento? A base industrial de defesa europeia, embora robusta em certas áreas, não tem capacidade para absorver esta procura imediata nem com o equipamento que se prevê necessário. A consequência inevitável é que uma fatia substancial destes novos fundos fluirá diretamente para os cofres dos grandes conglomerados de defesa americanos. Empresas como a Lockheed Martin (fabricante dos caças F-35), a Raytheon (produtora dos sistemas Patriot) e a General Dynamics (responsável pelos tanques Abrams) estão........
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