A extinção da FCT: uma boa notícia (?)
Uma das mais repetidas falácias sobre a investigação em Portugal é a que diz que a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) é o principal financiador da ciência no nosso país. A força desta falácia é tal que a notícia da extinção daquele organismo levou muitos académicos a profetizar o fim da ciência, um retrocesso inevitável da investigação, uma perda para a democracia.
Na verdade, os verdadeiros financiadores do sector são os contribuintes, que desde 2011 até 2024 (período disponibilizado pela FCT) entregaram 5.3 mil milhões de euros à FCT (76.1% da sua execução financeira). Em grande medida, a FCT limitou-se a servir de plataforma de distribuição deste dinheiro pelas unidades de investigação e investigadores que asseguram a atividade científica em Portugal (através dos financiamentos plurianuais, de concursos de projetos, de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento e do programa de estímulo ao emprego científico).
O problema é que a FCT sempre desempenhou esta tarefa de forma deficiente. Os concursos nunca seguiram uma periodicidade regular. Num ano, eram abertos em março, para no outro abrirem em setembro, para no seguinte nem sequer abrirem. Uma edição seguia um determinado procedimento administrativo, que era completamente revisto e complexificado na edição seguinte, antes de ser novamente simplificado no concurso subsequente. Os resultados eram invariavelmente divulgados com atraso, quando não a conta-gotas. O cálculo das taxas de aprovação era amiúde manipulado para aumentar artificial e desonestamente os rácios........
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