Das eleições e do poder como um fim
O poder está há demasiado tempo a ser um fim em si e não um meio para atingir um fim, a melhoria as condições de vida dos portugueses. Uma imprudência do primeiro-ministro não vai apenas condenar-nos a perder ainda mais tempo, depois de uma década já perdida. Pode igualmente significar uma elevação do patamar de exigência para quem quiser entrar na actividade política. Os advogados terão de se cuidar ou de desistir de entrarem na política.
Luís Montenegro cometeu o erro de não ter vendido a empresa de que era sócio, colocando-a fora do seu universo familiar. Luís Montenegro cometeu depois o erro de não se ter disponibilizado a explicar tudo, o mais rapidamente possível, optando até por teorias da conspiração, e assim permitiu que o caso o fosse queimando. Até que começou a ficar sem saídas. Perante uma comissão parlamentar de inquérito do PS, que prometia envolver a sua família e arrastar-se durante meses, contaminando as eleições autárquicas e presidenciais, ficou entre a espada e a parede. Ou apresentava a moção de confiança provocando a queda do Governo – apostando no compromisso do PS de que nunca aprovaria uma – ou deixava-se grelhar durante meses sem capacidade para governar. Escolheu, racionalmente, a moção de confiança.
Por muito que se considere o que se passou durante o debate e depois rejeição da moção de confiança como um teatro ou uma “atuação vergonhosa”, como disse Pedro Nuno Santos, compreende-se bem a última tentativa do Governo para evitar eleições. Não tinha nada a perder. Se o PS aceitasse a única condição que colocava para retirar a moção de confiança, estabelecer a data de 30 de Maio como limite para a conclusão da comissão parlamentar de inquérito, continuaria a governar e evitava o arrastar de um processo que lhe estragaria as eleições já agendadas e o manteria a cozer em lume brando. Se o PS não aceitasse, como aconteceu, deixava de ter os custos do........
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