Enquanto Portugal arde, o PS agradece
Todos os verões são iguais, mas este parece ter um enredo especial. As serras ardem, o céu fecha-se em fumo, o ar torna-se pesado. Os mesmos helicópteros, as mesmas sirenes, os mesmos discursos em direto. Um teatro repetido até à exaustão, como se Portugal tivesse escolhido viver dentro de um loop infinito.
Mas há um detalhe diferente: aquilo que deveria ser o ponto fraco do Partido Socialista — o fantasma dos incêndios que o perseguiu durante oito anos — está a ser transformado na sua maior oportunidade. É quase irónico: as chamas que deviam consumir o legado de António Costa parecem agora iluminar a estratégia eleitoral do PS.
Costa deixou uma herança de cinzas. Prometeu ordenamento, prometeu reorganizar a floresta, prometeu que os incêndios de 2017 seriam o último trauma coletivo. Mas ano após ano, a promessa dissolveu-se no ar quente de julho. O país voltou a arder, sempre. Os mortos ficaram na memória, mas as políticas nunca mudaram.
E não podemos fingir que este enredo começou agora. Basta recuar um pouco.
• Em 2003, no chamado “verão negro”, Portugal perdeu mais de 400 mil hectares em chamas. Era primeiro-ministro Durão........
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