Comissão Europeia, Judeus e Raízes de Portugal
A história e a cultura judaica fizeram parte da formação da identidade europeia. Neste facto reside a razão de ser do Plano da Comissão Europeia para promover a vida judaica até 2030, bem como o Dia Europeu da Cultura Judaica que se celebra por toda a Europa no primeiro domingo do mês de setembro de cada ano. Aproxima-se a data. O leitor porventura desconhece que o mais completo evento do género não ocorre em Paris, Munique ou Bruxelas, mas sim em Portugal, particularmente na cidade do Porto, onde a entrada é livre para todos quantos pretendam visitar a maior sinagoga do país, o museu judaico, o museu do Holocausto, salas de cinema, galeria de pintura, biblioteca judaica com 10 mil obras, garrafeira de vinho do Porto kosher e restaurantes comunitários, num programa recheado de conferências de alto nível e que mistura artes tão distintas como a cinematografia, a música, a pintura, a literatura e a gastronomia.
O evento celebrado no Porto em 2024, tal como nos anos anteriores, acolheu milhares de entusiastas da cultura, do diálogo, da portugalidade e da paz, num país cada vez mais dominado por uma “cultura” de distração vazia entre as massas. Multidões juntam-se a embaixadores de múltiplas nações de relevo. De todo o país, os interessados chegam com entusiasmo. São irmãos de séculos. Não esquecem que os judeus foram almoxarifes do reino, tesoureiros, astrónomos, mestres do comércio, financiadores das expedições marítimas que permitiram os Descobrimentos e agentes de espionagem a actuar no estrangeiro, posto que dominavam todos os idiomas e aceitavam correr riscos de vida ao serviço do reino.
Existe uma identificação do grande público com a comunidade judaica nacional, um sentimento de comunhão ancestral. Celebra-se também uma identidade colectiva que toca a alma nacional. Discute-se o futuro de Portugal e do mundo. O legado judaico e a vida judaica são entendidos como factores de poder imaterial português, que os visitantes reconhecem. Todos afirmam que podem ser descendentes de judeus. Com certeza. A população judaica representou farta percentagem da população portuguesa e os cruzamentos de sangue foram inevitáveis pelo casamento.
O Dia Europeu da Cultura Judaica assinalado no Porto é mais marcante pelo que os visitantes oferecem do que pelo esplendor da comunidade em sede cultural. A qualidade social genuína daquele público faz perguntar qual foi o milagre que lhe permitiu escapar à cultura da moda, a incultura da distração vazia, do que é fútil, do conforto de não saber nada e de não ter interesse elevado algum, do fascínio pelo banal que sufoca a alma, do desejo de buscar o que é vão, do menosprezo por um passado que passou a vergonha e não a mestre da vida.
Famílias inteiras percorrem as galerias da sinagoga central da cidade. Quando chegam, entram a medo. Não é normal um templo judaico abrir as portas. “Podemos mesmo entrar?”, “De graça?”. Agradecem penhoradamente aos membros do staff como se estes fossem........
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