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Anti-israelismo e anti-judaísmo modernos, gémeos soviéticos

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14.08.2025

Em 1945, os exércitos aliados completaram o efeito-tenaz tão necessário sobre as tropas nazis. Dezenas de milhares de judeus que se encontravam na linha da frente – soviéticos, americanos, ingleses e muitos outros – abraçaram-se pela primeira vez perante os mortos e os sobreviventes do Holocausto. Os factos revestiram-se de tão grande carga dramática e sentimental que, desde então, Estaline despejou a sua fúria contra a facção mais “cosmopolita” da URSS. Russos, ucranianos, lituanos, letões, bielorrussos, asiáticos e outros foram louvados a Leste pelo seu papel meritório na guerra patriótica. Os judeus foram esquecidos e, dentre eles, os primeiros desafortunados que exibiram as suas condecorações em Kiev e Moscovo, encaixaram uma pergunta aterradora que não mais esqueceram: “Onde compraram essas medalhas?”

Cedo começou a celebrar-se o “Dia da Vitória” sobre os nazis: a 8 de maio nos Estados Unidos e a 9 na União Soviética e em Israel. Milhares de soldados e oficiais do Exército Vermelho mudaram-se para o estado judaico após a sua fundação. Da URSS que os vira partir brotou um sério antagonismo contra o pequeno estado, assim que ficou claro que este não seria um mero feudo socialista, antes um país preocupado com os interesses judaicos. Com mentiras sucessivas, propaganda aberrante, dinheiro a rodos, treino aturado e serviços de inteligência, nasceu a identidade palestiniana separada e supostamente ramificada nos antigos filisteus. Esta foi a primeira grande invenção soviética, que não tinha qualquer correspondência com a realidade, e de repente o recém-nascido “povo palestiniano” já tinha o “direito a reclamar o seu próprio Estado, para se libertar da ocupação israelita”. Também o projeto da carta fundadora da Organização de Libertação da Palestina foi redigido em Moscovo e aprovada por centenas de “Che Guevaras palestinianos” selecionados, um a um, pela polícia política soviética. O mesmo sucedeu com o Exército de Libertação da Palestina, criado nas oficinas do KGB, pois desde o primeiro dia o estado de Israel deu mostras de muita valia no confronto direto com mais de uma dezena de países árabes e muçulmanos hostis.

A “causa palestiniana” preside ainda hoje o debate político, e a muitos se estendeu o rastilho gerido do berço por camaradas de base socialista soviética que em alguns casos lavraram as próprias constituições dos respetivos países, documentos a que chamam orgulhosamente de “leis fundamentais” protegidas de perto por magistrados nomeados direta e indiretamente pelo poder reinante. Ao mesmo tempo, elites feitas à pressão gritam a cada dia contra a discriminação, mas parecem esquecer de todo que o antissemitismo é um sentimento enredado numa percepção negativa relativa ao judeu, ao israelita, à tradição judaica, à religião judaica, à cultura judaica, ao sucesso judaico e ao estado judaico. Negros, trans, gays, ciganos e muçulmanos presidem a hierarquia da opressão, que não poderia ser mais adequada para destruir a viabilidade futura de países que nas próximas décadas terão de enfrentar civilizações milenares articuladas entre si. Os judeus e, sobretudo, os judeus israelitas, desapareceram das categorias ungidas ao direito de proteção. Foram atirados de cabeça para as “classes opressoras”, quando na verdade não se conhece qualquer outro povo massacrado em latitudes tão distintas como Lisboa, York e Odessa. Chama-se-lhes brancos, quando de facto comportam todas as etnias desde o Monte Sinai. Jura-se que são abastados, apesar de só uma ínfima minoria entre aquela grei possuir riqueza real. E afiança-se que são ocupantes de uma terra de onde foram forçados a sair quando Jerusalém, a rainha das capitais, se tornou tributária da força bruta romana.

O anti-israelismo global que se vive está........

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