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Carta do Sul ao Próximo Primeiro-Ministro 

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23.05.2025

Escrevo do sul, não apenas de um lugar no mapa, mas de um estado de espírito. Escrevo de um território que ainda não desistiu, mas que está perto disso, um território que gritou nas urnas e não gritou por ódio, nem por convicção ideológica. Gritou por desespero.

O sul do país, o Alentejo, o Algarve, o interior mais profundo que não deu uma grande vitória ao Chega por uma súbita adesão à sua doutrina. Votou assim porque deixou de acreditar nas alternativas, porque se cansou de esperar.

E importa sublinhar que eu não gostei da forma como esse grito se manifestou e não me revejo nesse voto, mas compreendo. Compreendo porque conheço o caminho que levou até aqui, porque cresci a ouvir histórias de como era antes, e a ver, ano após ano, como o país foi deixando de olhar para este lado.

Os meus avós lembram-se de aldeias com vida, de comboios a passar com regularidade, de escolas cheias de crianças, de um Alentejo pobre, sim, mas digno. Os meus pais, mesmo tendo estudado fora, puderam regressar, ainda havia espaço para construir uma vida aqui. Hoje, essa possibilidade esvai-se, o abandono........

© Observador