Da fragilidade da memória
Há em cada homem um desejo íntimo de permanência, um clamor mudo contra a erosão do tempo, uma esperança, por mais irracional que seja, de que aquilo que nos foi precioso não se dissolva na sombra. Mas a realidade impõe a sua lei: a consciência humana não alcança para além de dois ou três elos na cadeia da ancestralidade. A partir daí, o que resta são nomes soltos, datas dispersas, fotografias amareladas por mãos que já não sabem o que ali se fixava. Depois disso, instala-se o esquecimento.
É um facto quase cruel: os nossos avós serão, para os nossos filhos, pouco mais do que figuras vagas. Evocações respeitosas, talvez, mas despidas de calor. Não lhes doerá o silêncio que eles habitavam, não lhes será familiar o modo como olhavam ou as palavras que repetiam sem se darem conta. Por mais que nos esforcemos, e esforçar-nos-emos, para manter viva essa linhagem do afeto, a........
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