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Tal como a nação, o professor é valente

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11.09.2025

– Ano após ano, a chegada do mês de setembro é de frio no estômago e nó na garganta. Notam-se os dias a diminuir e a rebolar na nossa direção com uma cor mais acinzentada. Sou professora de Educação Visual e Tecnológica, tenho sete anos de serviço e ando há sete anos a saltitar, três dos quais sem horário completo, portanto também com salário incompleto, o que me fez pôr em dúvida a resistência da minha vocação. Mas a lembrança do brilhozinho nos olhos de alguns meninos e meninas do 5.º ano levou-me a persistir. Quando chega setembro sinto sempre uma aflição, como se fosse mudar de emprego, mas, na verdade, só mudo de escola, o que não é pouco. Já passei por Portimão, com casa partilhada, por Setúbal e por Palmela, num quarto, pelo Cacém, Alverca e Torres Vedras, a ir e voltar todos os dias. Os meus sonhos de criança de casar e ter filhos estão naturalmente adiados, à espera de maior estabilidade. A meio de agosto fiquei a saber em que escola fui colocada e pareceu-me que as férias se encurtaram. A última semana já foi num rodopio, com a cabeça sem parança, à mata-cavalos. Desta vez fiquei mais próxima de casa. Vou conhecer novas instalações, dezenas de novos colegas, aprender a lidar com outras regras, adotar centenas de novos alunos. Gostaria de manter contacto com alguns dos colegas do ano letivo passado. No meu departamento, e não só, fiz algumas boas amizades. Faço parte de vários grupos WhatsApp que sei que vão ser eliminados. Gostaria de guardar algumas mensagens lindíssimas que foram partilhadas, mas é tanta coisa que não cabe tudo no meu coração. Todos os anos é assim. Durante alguns meses ainda há alguns contactos e troca de mensagens, contudo, com o tempo e com os novos conhecimentos e as novas amizades, tudo se vai esbatendo. Ainda não sei como é que vai ser o meu horário. No ano passado entrava às oito às segundas, às dez às terças, às quinze às quartas, às nove às quintas e as onze às sextas. Tinha três furos, o que nem me incomodava, pois permitia-me aliviar um pouco a pressão das aulas e preparar outras. Não faço ideia se vai correr bem. Espero que sim. Vamos embora, Manela.

– Comigo foi diferente. Quer dizer, a aflição, o stress de setembro é inevitável, mas tive muito menos saltitos. No último ano do curso de Ensino da Matemática fiz estágio no Pedro Nunes, em Lisboa, a menos de uma hora de casa, e tive a sorte de ficar nessa mesma escola mais dois anos como contratado. Depois, para conseguir ficar agregado a um quadro de zona pedagógica, fui colocado bem mais longe. Fui para perto de Santarém. Gastava tanto tempo e fazia tantos quilómetros todos os dias que me parece que hoje já não seria capaz de o fazer. Fiquei por lá quatro anos. O ambiente entre colegas era formidável. E os alunos também eram espetaculares. Tudo gente muito simples e muito respeitadora. Lembro-me de um Natal em que uma mãe me foi oferecer um........

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