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Os Anjos não deviam querer mudar o Céu

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27.06.2025

Os Anjos não deviam querer mudar o Céu, mas tão-somente as suas próprias consciências. Este é o mote do que vos trago, porém a concomitância daqueles vocábulos não remete para um tratado litúrgico. Na verdade, aquilo de que vos falo é de uma situação bem terrena, uma birra deste cenário mundano, em que não é despicienda a natureza humana, mas que é efetivamente de bradar aos céus. Por um lado, é uma labuta que obedece a debilidades humanas; por outro, assume uma desproporcionalidade insólita que provoca estupefação. Falo, como podem imaginar, do processo judicial colocado pelos músicos Anjos à humorista Joana Marques, por esta ter gozado com uma atuação sua do hino nacional através de um vídeo publicado no Instagram. A ausência de aspiração teológica deste texto não faz desconsiderar, no entanto, que o nome artístico da dupla se presta a linhas analíticas afetas, às quais ora me vejo rendido.

Séneca (4 a.C.-65), filósofo estoico da Roma Antiga, numa carta a Lucílio, governador da Sicília, afirmou: “Deves mudar o teu ânimo, não o céu”; neste sentido, “o ânimo não se tornará escravo de nenhum lugar”. Este postulado teria já bebido da formulação do poeta romano Horácio (65 a.C.-8 a.C.) segundo a qual “os que atravessam o mar mudam de céu, não de alma”, uma ideia remontada ao pensamento do grego Bias de Priene (séc. VI a.C.). Dito de outra forma: se estamos à espera de que, ao viajar à procura do canto perfeito, o ambiente preencha os requisitos do........

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