Europa: Entre o Ferro e o Fogo
Todos os verões, o velho continente assiste, quase perplexo, à intensificação de fenómenos extremos que transformam a paisagem europeia em cenários de terra queimada. Ondas de calor cada vez mais frequentes e severas devastam ecossistemas, põem em risco comunidades inteiras e agravam problemas de saúde pública. O que outrora era exceção começa a consolidar-se como nova normalidade climática.
A ciência é clara: a Europa será o continente que mais aquecerá nas próximas décadas. Estudos sucessivos, corroborados por entidades internacionais como o IPCC, confirmam que a região combina dois fatores críticos: elevada densidade populacional e forte interpenetração entre áreas urbanas, rurais e florestais. Isto significa que o risco não se limita às zonas de mato ou floresta — ele chega às portas das cidades e ao coração das comunidades.
A relação entre o aquecimento e a poluição
O aquecimento global não é apenas uma questão de temperatura, é um catalisador de múltiplos processos ambientais e sanitários. Os incêndios florestais, potenciados por secas prolongadas e ondas de calor, libertam enormes quantidades de partículas finas (PM2.5 e PM10) para a atmosfera, comprometendo de forma grave a qualidade do ar. As areias do Saara, cada vez mais frequentes no continente europeu, transportam partículas minerais e metais pesados que, combinados com poluentes já existentes, agravam significativamente os problemas respiratórios e cardiovasculares. A vegetação sob stress hídrico e térmico intensifica a libertação de poluentes biogénicos — compostos orgânicos voláteis, pólens e poeiras resultantes da degradação acelerada da matéria vegetal.
A este cenário soma-se o efeito crescente das ilhas de calor urbanas, consequência de políticas urbanísticas........
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