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Ver ou não ver

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25.07.2025

Era a filha que contava na rádio, há uns meses, a propósito do lançamento da biografia: António Gedeão – aliás, Rómulo de Carvalho – não via notícias na televisão. Hoje, é coisa comum, ou porque se migrou para os ecrãs dos telemóveis ou porque muitos, confessadamente, não se querem deprimir. “É só desgraças”, dizem, ou formulação sinónima. O que releva na história contada por Cristina Carvalho é, portanto, o lado quase profético daquele comportamento do pai: há décadas, ainda sem canais privados nem estações a emitir notícias 24 horas por dia, internet, telemóveis e uma câmara de filmar no bolso de cada habitante da Terra, bastou o advento dos telejornais para que o poeta e professor de Física e de Química recusasse ver, não por rendição, mas enquanto fosse talvez a tempo. Observar o sofrimento através de um ecrã, comodamente sentados em nossas casas, terá dito mais ou menos assim, iria trivializá-lo, banalizá-lo, tornar-nos indiferentes a ele. Insensíveis.

Há muitos anos que a guerra entre Israel e a Palestina se tornou uma espécie de papel de parede desbotado da nossa cada vez mais colorida parafernália comunicacional. Estava lá no tempo da televisão a preto e branco, passou para a cor, do 4 por 3 ao 16 por 9, do caixote ao grande plasma plano, da RTP canal único ao caos multi-ecrã das nossas vidas contemporâneas. Há muito que os próprios jornalistas se lhe tornaram consideravelmente imunes: episódio no conflito israelo-árabe só dá direito a chamada de capa a partir de certo número de mortos; abaixo disso, é “business as usual”. Não vá o público queixar-se de que “só dão guerra”.

A 7 de Outubro de 2023, numa série de........

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