Nacionalismo "reborn"
Espalhou-se por aí mais rápida e silenciosamente do que a moda dos bebés reborn; depois, perdeu a vergonha e começou a tornar-se ruidoso: o nacionalismo, senhoras e senhores, meninos e meninas, está de volta.
Não seria o movimento mais previsível num país que faz da autodepreciação desporto nacional, mas aconteceu. Com as agressões por motivações racistas a regressar, o discurso de ódio a crescer, as declarações xenófobas em alta, milícias armadas e o discurso sobre a imigração, que ainda há um ano era tóxico, a tomar conta do debate político. Mas não só; este – como chamar-lhe? – renacionalismo tem outro traço distintivo muito curioso: apanha os dois lados. Direita e esquerda. Um de forma mais agressiva, sem dúvida, outro de forma mais insidiosa, mas os dois, ainda assim. Dum lado, ameaça-se o imigrante, do outro, marcha-se contra o turista. Quem diria? Um cidadão incauto está, pacatamente, numa conversa e, de repente, ali aparecem elas, nunca se sabe de que lado: as terríveis, as violentas, as pareciam-tão-inofensivas-e-afinal-vai-se-a-ver-e-olha, saudades que eu já tinha da minha alegre casinha.
Dum lado, o skinhead; do outro, o mais demagógico indignado de esquerda que grafita, em bom inglês “Fuck tourists, go home!”, de preferência, na parede de algum lugar bem histórico da cidade. Uns e outros encontram-se, afinal, a meio do campo, na mais nuclear das idiossincrasias lusitanas: o saudosismo. Na cabeça de uns e de outros, construiu-se a ideia de que, antes, é que isto era bom, quando era só nosso, antes de cá terem vindo desvirtuar tudo, uns tirar-nos o trabalho, os outros a casa, ambos a empatarem-nos a vida e encarecerem-nos a dita, que já não era barata. Uma pessoa vai a........
© Observador
