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Era uma vez o Espaço

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22.08.2025

No lugar da Malbusca, um pequeno rebanho de vacas charolesas e limousines constitui a última linha de defesa terrestre antes do anunciado porto espacial. Olham com desconfiança a inesperada presença de visitantes naquele lugar pacato em que uma só estrada rural corta os campos, ladeando a colina onde uma velha vigia da baleia olha a costa sul de Santa Maria e recorda os tempos em que era a baleação a última fronteira e o sector capaz de alavancar as economias dos açorianos. De um lado da estrada, um cruzeiro evoca as vítimas de um acidente de outro modo perdido na memória e, lá mais adiante, aguarda a igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, confirmando a velha suspeita de que os portugueses têm mesmo uma Nossa Senhora para tudo. Do outro lado da estrada, um barracão pintado no fabuloso almagre típico da ilha parece ao olhar mais desatento a solitária infraestrutura num lugar onde, lendo as notícias, se esperaria encontrar pelo menos um foguetão em montagem, muitos hangares e cancelas assinalando passagens proibidas ou de acesso restrito, um velho Space Shuttle – quem sabe? – transformado em cantina para os funcionários. Na parede, a inscrição “Exploração das vacas roubadas” acrescenta o derradeiro toque surrealista. É daqui, dizem os jornais, que Portugal fará os primeiros lançamentos espaciais já na próxima Primavera.

A licença foi emitida a semana passada e festejada pelo consórcio vencedor e entidades responsáveis: “um passo histórico”, chamou-lhe o Presidente do Governo Regional dos Açores, que vai posicionar a região como “actor relevante na inovação espacial”. “Um passo decisivo no reforço do posicionamento de Portugal no sector espacial europeu”, clama a Agência........

© Observador