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A vida é uma caixa de comentários

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18.04.2025

De acordo. Certamente, nenhum pai alguma vez ouviu dizer: “Papá, mamã, quando eu for grande, quero ser comentador.” Não é a carreira que mais enche o olho sonhador a uma criança. Não é aquele talento que pulsa nas veias e para o qual se encontra, ou não, explicação (“Ah, já o avô comentava muito bem…”). Mas a ideia de que o “comentário” seja algo meramente adjacente ao facto, acessório satélite aposto a um qualquer acto primordial, também não é inteiramente justa. O termo “comentar” chegou-nos, praticamente, sem estrago desde o latim original “co-mentare” e significa “pensar com”, isto é, com base em, a partir de. Toda a filosofia se baseia nesta ideia, a de que ninguém reflecte a partir do zero, como se não existisse mundo antes, história, tradição de pensamento. Todos os pensadores, todos os filósofos, são comentadores, mesmo que para recusar, negar, destruir, o já pensado. Platão comentava Sócrates; Aristóteles, Platão; São Tomás de Aquino, Aristóteles. Dá logo outra dignidade à função. Há muito que há comentadores; é útil que haja comentadores. Dito isto, não será ir um pouco longe de mais pôr quatro pessoas a comentar um frente-a-frente entre, digamos, Inês Sousa Real e Paulo Raimundo? Em........

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