menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

Morrer de Vida.  O paradoxo que nos faz eternos

10 10
11.02.2025

A vida e a morte não são inimigas, mas companheiras que desenham juntas o sentido da nossa existência. Nós, os humanos, somos os únicos seres capazes de observar esse quadro de forma consciente, transformando o simples acto de existir numa narrativa repleta de paradoxos. Como escreveu José Saramago: “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir.”

A vida apresenta-se como um breve intervalo, um clarão entre dois silêncios profundos. Nascemos num mundo que não escolhemos, herdamos histórias alheias e escrevemos as nossas em letras temporárias. No entanto, é nesta fugacidade que reside a sua beleza: como a flor de lótus, que desabrocha na lama, a vida ganha sentido precisamente porque é transitória. O problema, como diria o filósofo Soren Kierkegaard, é que muitos vivem “de costas voltadas para a morte”, mergulhados numa ilusão de permanência. Adiamos sonhos e gastamos horas em trivialidades, esquecendo-nos de que a vida é finita. E é justamente essa finitude que nos desafia a amar, criar e fazer escolhas.

Ao longo da história, as civilizações encontraram formas de lidar com o medo da morte. Em Portugal, as procissões da Semana Santa mostram como vida e morte se entrelaçam num ritual solene: a ressurreição não nega a crucificação, mas lembra-nos que só reconhecemos a luz porque conhecemos a escuridão. No entanto, nas sociedades modernas, temos tendência para........

© Jornal SOL