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Quem são os principais responsáveis pela erosão da democracia?

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14.08.2025

Um dos erros deliberados do nosso tempo é atribuir a eventual erosão da democracia a fatores que, na realidade, são apenas consequências. Não é Trump nem Ventura que corroem a democracia. O que a degradou foi o surgimento de um novo tipo de elites, a partir da segunda metade do século XX, que, sob o pretexto de modernizar o sistema, o esvaziaram de substância e o converteram num mecanismo ao seu serviço. Autores como James Burnham, Christopher Lasch e Michael Lind permitem fundamentar, com solidez, esta evidência.

O poder social de uma mundividência assenta, pelo menos, em três pilares fundamentais: o poder de facto que abrange o governo político, as grandes corporações, a economia e a cultura. Nesta última incluem-se os valores e a moral, ou aquilo que, na prática, as substitui. A mundividência dominante no Ocidente impôs-se por transformações sociais profundas relativamente às estruturas precedentes. Entre estas contam-se o desaparecimento das conceções de Bem de natureza moral, filosófica e religiosa, relegadas para a esfera privada e substituídas por um direito meramente procedimental e pela vulgata abstrata dos “direitos humanos”, a par de um ódio progressista a nós próprios. Acresce a instauração de uma nova dinâmica no conflito de classes que moldaria o nosso presente e que está na origem da corrosão democrática.

James Burnham, em The Managerial Revolution (1941), já antecipara a substituição do capitalismo tradicional por um novo sistema em que o poder real passava das mãos dos capitalistas-proprietários para uma classe gerencial, composta por gestores, administradores, técnicos, burocratas e especialistas. Esta elite não precisava de possuir formalmente os meios de produção para os controlar, consolidando-se em estruturas centralizadas e autoritárias. Décadas mais tarde, Christopher Lasch e Michael Lind desenvolveriam esta análise, mostrando como a nova elite, além de tecnocrática, se tornara globalizada e desligada do povo.

Michael Lind, em The New Class War (2020), observa como o poder hiperliberal tecnocrático foi, a partir da década de 1960, substituindo o pluralismo democrático que caracterizara as primeiras décadas do........

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