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Feira do Livro do Porto: livros, conversas e um amigo

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06.09.2025

Um amigo meu, professor e ensaísta que muito respeito e admiro, diz que, de futuro não contem com ele para estar, seja em que papel for (autor, moderador), em feiras do livro. É pena, pois esse meu amigo é respeitado pelos seus pares, tem uma obra relevantíssima no que diz respeito ao ensaio e as suas intervenções têm sempre interesse. Perdemos nós, mas perdem sobretudo os que organizam feiras. Perdem os editores que, porventura, quisessem ter esse meu amigo como autor nos seus catálogos. Compreende-se, no entanto, que este amigo meu não queira mais ir a feiras. São, quase todas, lugares onde o livro, apesar de ser o pretexto para que se realizem, é o parente pobre do que, na verdade, nas feiras acontece. Vejamos por partes.

Portugal é um país onde, como todos sabemos, se lê pouco. Inquisição que durou quase 300 anos; 48 anos de ditadura salazarista-marcelista; regime liberal oitocentista interrompido por períodos de repressão; uma democracia que, reconquistada em 1974, tem dado nos últimos anos sinais de retrocesso a vários níveis – com especial ênfase no campo educativo onde, verdade seja dita, não fizemos leitores de qualidade de há 25 anos para cá –; uma tendência congénita do português para desconfiar sempre daqueles que sentem porque pensam e pensam porque sentem (o português adora a mediania, o tudo-igual que garante a paz podre das relações humanas e o adormecimento da pulsão vital), ler é um verbo que incomoda. E no entanto, quer a leitura, quer o objeto ‘livro’ são, não raro, sinais de distinção social que muitos apreciam e cultivam. Nada contra. Mas as feiras do livro, visando o lucro, tornaram-se nos últimos dez, quinze, vinte anos – em concordância com o que aconteceu no mercado editorial e as apostas desse mercado em autores e obras que literariamente pouco ou nada valem – inimigas do próprio livro. Melhor: da literatura.

Se é verdade que muitos de nós apreciam estar em feiras do livro – e a do Porto é o melhor exemplo do que afirmo – onde há alfarrabistas com livros raríssimos, belíssimas edições........

© Jornal SOL