Cem anos de solidão
ANDRÉ GUSTAVO STUMPF, jornalista
Fazer política no Brasil é exercício perigoso. Nos últimos sessenta e poucos anos tivemos um presidente que, repentinamente, renunciou ao mandato. Esperou que o povo fosse buscá-lo numa base aérea em São Paulo. O povo não apareceu, e ele se viu na circunstância de embarcar em um navio cargueiro em direção a Londres. Jânio Quadros nunca mais recuperou seu antigo prestígio. Jango, que jamais foi comunista, fez um jogo esquerdista para liderar o espólio de Getúlio Vargas e acabou deposto pelos militares em 1964. Terminou seus dias numa fazenda no Uruguai, milionário, mas esquecido pelos seus liderados. Final triste. Voltou ao Brasil dentro de um caixão.
Nos governos militares, a luta pelo poder também produziu vítimas de todos os tipos e tamanhos. A começar pelo primeiro presidente militar do regime de 64, o marechal Costa e Silva. A disputa ocorreu entre ele e o também marechal Castello Branco. Costa e Silva venceu, tomou posse, governou e teve um sério problema circulatório. Morreu. Seu vice, o mineiro Pedro Aleixo, foi avisado que não tomaria posse. Simplesmente escantearam o vice-presidente constitucional para que assumisse o poder uma trinca de militares, chamada de junta militar. Ulysses Guimarães apelidou o grupo de os três patetas. Estes, por sua vez, providenciaram uma espécie de escolha dentro da tropa. Venceu o mais discreto deles, Emílio Médici.
Depois, na sucessão de Médici, ocorreu outra........
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