Breque
Fosse combinado no relógio não seria tão exato.
Quando Bezerra da Silva canta o último verso, Renata desliga o Monza zero quilômetro e entra na padaria. O pão de queijo saído do forno e a baguete dourada roubam-lhe a pressa: qual vai levar? Ela matuta, ainda a cantar os versos do partideiro.
Então, a impaciência das buzinas e a angústia do segurança interrompem a contemplação. “De quem é o Monza?”
Renata, que ainda vai pegar as duas filhas gêmeas na pré-escola, abastecer o carro, tirar xerox de documentos, sacar dinheiro para pagar a diarista, reservar uma pousada em Ubatuba para o carnaval, comprar o jornal na banca e preparar o jantar, esqueceu de puxar o breque ao estacionar.
Pesado e solto, o carro desce a calçada. Não atropela ninguém, mas encontra um Chevette, semi-novo, que passa pela Vila Mariana. O acidente afunda a porta de um e arrebenta o pára-choque traseiro do outro.
Renata - a motorista distraída, ou atarefada - , corre em direção à rua. Está assustada e envergonhada. Aí, seus olhos encontram os de Paula.
Paula é a motorista do Chevette que levou a batida. Paula pede à Renata que se acalme, que ninguém se machucou. Elas trocam cartões. Renata, a motorista que causou o acidente, garante que o seguro dela vai pagar tudo e se desculpa novamente. Despedem-se com um aperto de mão. Paula acelera. A pequena........
© Brasil 247
