menu_open Columnists
We use cookies to provide some features and experiences in QOSHE

More information  .  Close

'Agro pop não reflete contradição interna', diz ex-ministro da agricultura

2 1
previous day

Editora do prêmio Empreendedor Social, editou a Revista da Folha. É autora de “As Meninas da Esquina”

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

benefício do assinante

Você tem 7 acessos por dia para dar de presente. Qualquer pessoa que não é assinante poderá ler.

benefício do assinante

Assinantes podem liberar 7 acessos por dia para conteúdos da Folha.

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

O ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto, 83, continua participando ativamente de fóruns de discussão sobre o agronegócio brasileiro mesmo depois de aposentado.

Testemunha de debates históricos como o da reforma agrária, o engenheiro agrônomo, que foi pró-reitor da Unicamp, ocupou cargos importantes na Embrapa, na Conab e no Banco do Brasil, de onde viu o país nascer e crescer como potência agropecuária.

Guedes, no entanto, aponta as contradições históricas e impasses atuais do setor. "Nossa agricultura moderna é fruto de política pública. Não existiria se não fosse financiado pelo Estado. É extremamente subsidiada", avalia.

A imagem de progresso e potência, diz ele, não reflete todo o setor. Guedes ressalta que o conceito de agronegócio vai além da porteira. "Muitos produtores rurais hoje se veem como empregados das indústrias."

Uma constatação que encontra respaldo em estudo recente da revista Global Food Security, segundo o qual de cada dólar gasto em alimentos apenas 16% ficaria no elo agrícola. "Ou seja, o risco climático e a responsabilidade socioambiental ficam em países como o Brasil, enquanto a maior parte do valor é capturada por aqueles que operam fora da porteira e do país."

A seguir, os principais trechos da entrevista do técnico que, ressalta, foi um dos poucos ou senão o único a ocupar o ministério mesmo não sendo fazendeiro.

O senhor já esteve com a caneta na mão. Qual seria sua prioridade se fosse ministro da Agricultura hoje? Sustentabilidade. Criar uma agricultura mais amigável com a natureza e as condições para que isso aconteça. Da mesma forma que o estado foi indutor de uma agricultura produtiva lá na década de 1970 e 1980, que seja indutor dessa agricultura que busque sustentabilidade e inclusão.

O agro está assentado em modelo de produção que provoca impacto enorme na natureza, com uma expansão da fronteira agrícola para Centro-Oeste e Norte feita com enorme destruição dos biomas. Grande parte dessas terras é grilada. São terras públicas invadidas. Primeiro, chegam garimpeiros e madeireiros. Depois, a agricultura. Além da incorporação de novas áreas desta forma, temos o impacto do uso de produtos químicos, sobretudo de agrotóxicos. Somos o maior importador do mundo de adubos e agrotóxicos.

Para continuar a ser celeiro do mundo, o agro brasileiro precisa dar respostas para estas questões ambientais e de saúde pública? Corretíssimo. Nós temos que mudar o modelo. Esse é o grande desafio para a Embrapa hoje. Prover um novo modelo de produção que não seja tão dependente desses insumos. Promover o que se chama agricultura regenerativa, que não só preserve, mas recupere. Temos que pensar nos nossos filhos, netos, bisnetos. Nós temos lideranças que enxergam dessa forma, como Roberto Rodrigues, que foi meu colega de turma. Mas há outras lideranças representativas de confederações e associações que não têm essa visão. E são as predominantes. Às vezes, têm até no discurso, mas não na prática.

O Estado continua sendo o motor do Brasil como potência agropecuária? Nossa agricultura moderna é fruto de política pública. Não existiria se não fosse financiado pelo Estado. É extremamente subsidiada. Fiz um estudo sobre crédito rural em 1979. Em 1975, o volume do crédito rural foi maior que o valor da produção agrícola naquele ano, somados os recursos........

© UOL