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Ele terminou comigo de forma cruel. Sinto que preciso falar, mas dizem que seria me rebaixar

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Escrita por Carol Tilkian, psicanalista, pesquisadora de relacionamentos e palestrante. Fundadora do podcast e do canal Amores Possíveis e professora da Casa do Saber

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Não existe forma certa de elaborar o fim de uma relação. Mas nenhuma relação —com tudo o que ela provocou, ressoou e marcou— se elabora de fato, e não apenas termina, sem que você se permita atravessar o que esse fim ainda mobiliza no agora.

Faço questão de iniciar este texto dizendo que a pergunta vem de uma leitora porque aqui o recorte de gênero faz toda a diferença na forma como a sociedade valida (ou não) os incômodos de quem os enuncia.

Historicamente, fomos educadas para sermos "boas moças": pacientes, servindo com doçura, compreendendo as necessidades alheias e abrindo mão das próprias. Mesmo gerações como a minha, formadas nos anos 80 e 90, cresceram ouvindo que deveríamos investir em nossas carreiras, conquistar independência financeira, bancar nossas escolhas e saber o que queremos. Mas, ao mesmo tempo e quase no mesmo tom, fomos ensinadas que uma mulher é mais querida, mais aceita e mais amada se souber dizer tudo com jeitinho, se for doce mesmo diante da dor, compreensiva mesmo diante do absurdo.

Ou seja, nos deram a autonomia, mas com um pedido velado: que ela não fosse incômoda. Que o desejo de falar, de pedir, de ir não pesasse demais a ninguém. Afinal, leveza sempre foi exigência (mas só da nossa parte). Como se ser amável fosse sempre mais importante do que ser verdadeira.

No imaginário coletivo, a mulher que se coloca é a barraqueira, a louca, a histérica, a "pobre coitada" como descreve Elena Ferrante em "Dias de Abandono": "Quando você não sabe segurar um homem perde tudo… A mulher perdeu tudo, até o nome, se tornou para todos 'a pobre coitada'. A pobre coitada chorava, a pobre coitada gritava, a pobre coitada sofria, dilacerada pela ausência do homem vermelho suado (…) A coisa que temia desde pequena —crescer e ficar como a pobre coitada".

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