Aplausos pros desaplaudidos
Escritor e roteirista, autor de "Por quem as panelas batem"
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Num "Campeonato Nacional de Sentimentos" em que a "glória" ocupasse o pódio, o "ressentimento" apareceria em último lugar, bem depois da raiva, da melancolia, do nojo, do tédio e da inveja. "A inveja é uma merda", diziam os adesivos nos carros, quando havia adesivos nos carros —hoje as redes sociais transformaram nós mesmos nos adesivos. Mas quem colava aquilo tinha o único objetivo de produzir, ora, bolas, inveja. "Uau, quem será essa pessoa tão bem resolvida e autossuficiente no carro à minha frente?".
A inveja é a irmã proativa do ressentimento. Se subir um pouquinho na vida já vira cobiça, que pode ser pecado na Bíblia, mas é uma das pedras angulares do capitalismo. Já o ressentimento não nos leva a produzir nada. Sobre ele só cresce o bolor. Quando o Instagram se torna a medida de todas as coisas e cada um vira relações públicas de si mesmo, enviando diuturnamente press releases visuais do próprio sucesso, o ressentimento, este filho coxo da infelicidade com a injustiça, vai direto pra lanterninha.
O ressentido é o grande "loser", aquele que não teve seus cinco minutos de fama —ou 5 milhões de seguidores—, o que não apareceu. Aparecer é preciso, viver não é preciso. Para aparecer, vale tudo. Até pegar um fuzil AR-15, entrar numa escola e matar criancinhas. Ou fazer piadas sobre quem pega um fuzil AR-15, entra numa escola e mata criancinhas. Neste mundo de pernas pro ar, o........
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